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    Coração de Leão - O Amor Não Tem Tamanho
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Coração de Leão - O Amor Não Tem Tamanho

    Anões são engraçados?

    por Bruno Carmelo

    Ivana apaixona-se por León. Ela tem uma estatura normal, ele é um anão. Este poderia não ser problema algum, mas é o grande e único conflito desta comédia romântica. “O amor não tem tamanho”, diz o afável título brasileiro. Já o título original “Coração de Leão”, além de citar o nome do protagonista, sugere alguém forte e grande – exatamente o oposto do homem de 1,35m. Os eufemismos também ditam o tom da trama e começam logo na primeira cena, quando os dois se falam por telefone. O cineasta Marcos Carnevale mostra Ivana de corpo inteiro, apesar de fechar o enquadramento no rosto de León. Por quê? Para criar suspense, para o espectador ter um susto na cena seguinte: "Meu Deus, um anão!".

    O fato é que este filme baseia a sua única originalidade no pressuposto (ele próprio já um pouco preconceituoso) de que uma mulher bela e de estatura comum dificilmente se apaixonaria por um anão. O nanismo não é tratado de maneira natural, muito pelo contrário. Toda a direção é pensada de maneira a ressaltar a diferença de tamanho entre os dois, como na cena em que almoçam juntos, e o enquadramento compara-os lado a lado, sentados em cadeiras iguais - os pés dela firmes no chão, os dele balançando no ar. Quando León vai tropeçar em alguém na rua, uma musiquinha antecipa alegremente o fato; quando ele fica preso no alto de um móvel da cozinha, a montagem faz a cena durar uma eternidade, aparentemente para deixar o público rir à vontade.

    Apesar de todo o seu bom mocismo, seguindo cegamente as regras da comédia romântica, Coração de Leão - O Amor Não Tem Tamanho incomoda bastante pelo retrato que faz de León. Dizendo melhor: o filme incomoda pelo fato de colocar a singularidade à frente da pessoa. Léon não é um homem divertido e carinhoso que por acaso é anão. Ele é acima de tudo um anão, tratado como tal por todos em frente e atrás das câmeras. Aliás, é bastante questionável que o filme não siga o ponto de vista dele, e sim o de Ivana, que surpreende-se e deve se acostumar com o novo parceiro. Ele ganha uma única cena em que expressa as suas opiniões, torna-se um homem ativo e de personalidade forte (cena muito bonita, aliás, que poderia servir de exemplo ao resto da história). Antes disso, ele é o "outro", o "estranho", o "exótico".

    Para os espectadores argentinos, resta ainda a curiosidade de ver um ator de estatura normal interpretar um anão. Ao invés de convidar um anão de verdade para o papel (o que seria uma escolha coerente para um filme que pretende defender a inclusão das minorias), Marcos Carnevale preferiu diminuir digitalmente Guillermo Francella, astro conhecidíssimo na Argentina. O diretor disse inclusive que esperou muitos anos para obter a tecnologia necessária. Assim, a comédia ganha ares de "freak show", com a intenção de cativar o espectador pela possibilidade inusitada de ver um ator famoso em formato pequenino - algo equivalente a ver homens travestidos de mulher, pessoas belas interpretando feias e assim por diante.

    O que torna a sessão de Coração de Leão - O Amor Não Tem Tamanho agradável são os bons atores escolhidos. Julieta Diaz já provou em diversos outros filmes a sua capacidade de transitar entre comédia e drama, às vezes na mesma cena. Ela se sai muito bem tanto nos momentos mais improváveis (a sequência do paraquedas) quanto no duro confronto com León, na segunda metade da trama. Francella também é excelente, tentando injetar humanismo neste homem apresentado essencialmente como um playboy, que compensa o nanismo com dinheiro. Os momentos com o filho, embora simples, também são comoventes.

    É nesta hora que se percebe que o filme se sai muito melhor no drama do que na comédia. Não que as dificuldades do protagonista se prestem apenas à piedade - outros filmes sobre doenças e disfunções físicas, como Intocáveis e A Culpa é das Estrelas, fizeram humor de qualidade sobre o tema - mas é apenas nas horas tristes que os personagens fogem dos estereótipos em que o roteiro insiste em inclui-los. Por trás da figura do "anão" e da "mulher gostosa", León e Ivana são personagens interessantes, dignos da atenção do espectador.

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