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    Mortdecai - A Arte da Trapaça
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Mortdecai - A Arte da Trapaça

    Bigode fino

    por Francisco Russo

    Johnny Depp não anda numa boa fase. Por mais que seja idolatrado por muitos e traga no currículo personagens marcantes da sétima arte, como o capitão Jack Sparrow e Edward Mãos de Tesoura, não é de hoje que ele anda errando a mão na escolha de seus novos projetos. Além disto, o excesso de aventuras da série Piratas do Caribe tem trazido um efeito colateral preocupante: os trejeitos de Sparrow, que dão um charme peculiar ao personagem, têm sido levados pelo ator aos seus papéis fora da franquia. Seja no índio Tonto de O Cavaleiro Solitário ou no vampiro de Sombras da Noite, é possível perceber um ou outro tique característico. Em Mortdecai - A Arte da Trapaça isto também acontece. Mas, pela primeira vez em muito tempo, é possível também notar o esforço de Depp ao criar um personagem novo, algo que ele tanto gosta de fazer.

    Assim como Jack Sparrow, Charles Mortdecai é um personagem torto, com um pé na legalidade e outro não. Negociador de obras de arte, ele conhece bem o submundo da área e, vez ou outra, precisa do sempre alerta Jock (Paul Bettany, em boa caracterização) para livrá-lo de problemas. Depp criou um personagem extremamente mimado e afetado, por mais que sempre ressalte sua masculinidade junto à esposa ou alguma possível amante. O fato de ser também um covarde por excelência o torna dependente da ajuda de Jock, com quem forma uma inusitada parceria que ultrapassa a fronteira da relação patrão-empregado para uma quase escravidão servil. Além disto, há nele a famosa arrogância britânica, que se manifesta especialmente na divertida analogia a Los Angeles. E, é claro, o cultuado bigode, tema de inúmeras piadas sem graça e da crise com sua esposa (Gwyneth Paltrow, batendo ponto).

    É bem verdade que Mortdecai tem problemas – MUITOS problemas. O mais grave deles, mortal para uma suposta comédia, é a ausência de timing cômico na trama como um todo. Por mais que haja um nítido esforço tanto de Depp quanto de Bettany (a dupla demonstra química nas cenas de ação), o roteiro simplesmente não ajuda ao insistir em piadas batidas e em uma história arrastada, com personagens que entram e saem sem ter grande relevância. O triângulo amoroso formado por Depp, Paltrow e Ewan McGregor é outro ponto negativo, especialmente pelo tom apático do inspetor Martland. Só que, neste caso, a falha é mais do diretor David Koepp do que propriamente de Ewan McGregor, pela concepção equivocada do perfil do personagem. Sua apatia serve apenas para valorizar desnecessariamente a personagem de Paltrow, sem criar a necessária rivalidade com o rival Mortdecai.

    No fim das contas, Mortdecai apresenta alguns elementos que lembram vagamente o saudoso inspetor Clouseau de Peter Sellers, mas longe de ter a mesma qualidade. O filme apenas engrena de fato quando a dupla Depp/Bettany está reunida, perdendo bastante força sempre que algum coadjuvante ganha espaço. Por outro lado, é perfeitamente compreensível o porquê de Depp ter se empenhado tanto neste projeto, no qual entrou também como produtor, pela chance de criação que o personagem lhe proporcionava. É uma pena que Mortdecai e Jock tenham caído em mãos tão pouco habilidosas na direção e no roteiro, pois são personagens com potencial e bem interpretados. Se quem estivesse no comando fosse algum diretor mais habituado com a comédia, como Paul Feig ou até Ivan Reitman, o resultado poderia ser bem melhor.

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