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    Life - Um Retrato de James Dean
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Life - Um Retrato de James Dean

    O blues de James Dean

    por Bruno Carmelo

    Talvez você conheça este episódio curioso do cinema americano: o jovem ator James Dean, ainda pouco famoso, está prestes a ter o seu primeiro grande filme nos cinemas, Vidas Amargas (1955). No entanto, ele não se sente à vontade com os holofotes, foge à obrigação contratual de promover o filme e se esconde na pequena fazenda de sua família, com o amigo Dennis Stock, um fotógrafo da revista Life. Neste local, Stock tira as fotos mais famosas da carreira de Dean, que ironicamente ajudam a lançá-lo ao estrelato.

    A escolha de levar este episódio ao cinema é no mínimo ousada. O diretor Anton Corbijn poderia ter escolhido momentos mais “espetaculares”, como a morte prematura do ator ou sua relação turbulenta com as mulheres. Ao invés disso, preferiu os pequenos momentos íntimos, o tédio dos bastidores, a melancolia na vida de um ator que nunca se acostumou ao sistema de estúdios. Em outras palavras, o roteiro leva às telas os “tempos mortos”, as esperas, os olhares – justamente aquilo que a maioria das cinebiografias teria descartado.

    Life é um filme lânguido, crepuscular. A fotografia busca belos tons acinzentados e pouco saturados, preferindo os dias nublados e chuvosos ao pôr do sol. Cada imagem desenvolve-se em um tempo lento, contemplativo, que talvez desestimule o grande público, mas que funciona muito bem para permitir o aprofundamento das ações e principalmente do clima. Corbijn trabalha de maneira exemplar a construção da atmosfera, transformando-a em um personagem tão importante quanto James Dean (Dane DeHaan) e Dennis Stock (Robert Pattinson).

    As atuações devem dividir espectadores e público. Robert Pattinson tem uma atuação contida. Seus gestos são funcionais, adequados à imagem de um homem em crise, mas não se destacam. Quem realmente chama a atenção é Dane DeHaan, para bem ou para mal: a sua composição de James Dean é tão extrema que pode ser considerada uma incrível entrega ao papel, ou talvez uma caricatura grotesca do biografado. DeHaan cria um personagem totalmente apático, falando em tom ar-ras-ta-do, len-to, sem um pingo de vigor. James Dean assemelha-se a um zumbi, uma espécie de gênio excêntrico no limite do autismo.

    Atuações controversas à parte, Life consegue se estabelecer como uma obra bela e austera, munida de ambições complexas. Não é fácil investigar a criação de mitos em Hollywood, ou a inevitável assimetria entre a fotografia e o real, mas Corbijn aborda estes temas de modo frontal e nuançado, embora não exaustivo. A presença de um discreto humor negro (através do personagem de Ben Kingsley) também contribui a tornar a história um pouco mais calorosa.

    Filme visto no 65º festival de Berlim, em fevereiro de 2015.

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