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    Florbela
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Florbela

    A mulher e o mito

    por Francisco Russo

    Você conhece Florbela Espanca? A poetisa portuguesa, cuja vida sofrida no início do século XX durou apenas 36 anos, é o tema central da cinebiografia Florbela, uma rara produção da terrinha a aportar nos cinemas brasileiros. Por mais que seja perfeitamente possível analisá-lo sob uma ótica puramente técnica, este é um caso em que o seu grau de conhecimento sobre a personagem retratada influencia na própria percepção do filme. O motivo é a escolha do diretor Vicente Alves do Ó em fazer um filme para entendidos na vida e obra da poetisa, deixando de lado o didatismo para investir fundo no dramalhão.

    A justificativa para tal escolha, o diretor deixa explícito apenas lá no final, com as legendas de encerramento. É quando os não-entendidos enfim compreendem o porquê de tanta emoção exacerbada, tanta trilha sonora carregada e uma boa dose de exagero, típico de quem conduz as emoções à flor da pele. Por mais que seja um reflexo nas telas da própria vida de Florbela, fica difícil para o espectador leigo entender tal opção. Pelo mesmo motivo, o filme deixa no ar algumas lacunas sobre sua personagem título. É perfeitamente possível deixar a sessão sem saber, de fato, o grau de importância de Florbela Espanca para a literatura portuguesa. Poderia ser uma mulher como outra qualquer, de vida trágica.

    Em parte, a escolha pela ausência de maiores informações tem a ver com a decisão executiva em não tocar nas feridas profundas em torno da vida de Florbela. Por exemplo, o possível incesto com seu irmão Apeles (Ivo Canelas, que lembra bastante o também ator Rodrigo Lombardi) jamais é explicitado, por mais que se note um certo clima existente entre os dois. Da mesma forma, a vida de Florbela antes do casamento com o médico Mário (Albano Jerónimo) é praticamente ignorada - há uma rápida cena no momento de separação com o marido anterior e só. É possível saber que Florbela tem um livro publicado, mas o grau de repercussão do mesmo é bastante limitado - apenas um breve comentário de uma amiga, se referindo ao material escrito por ela para uma revista. Por mais que a opção em não explorar o sensacionalismo em torno de seu nome seja até louvável, o filme carece de mais dados para que o espectador possa se situar dentro do universo da personagem, especialmente em relação à sua carreira e até mesmo ao tipo de poesia que produzia.

    Diante desta situação, quem consegue segurar o filme é a protagonista, Dalila Carmo. De olhar forte, ela transita da alegria extrema para a tristeza profunda, passando por explosões de raiva, com uma facilidade impressionante. É ela a alma do filme, transmitindo ao espectador as angústias vividas por Florbela em sua eterna luta entre fazer o que gostaria e o que lhe era esperado pela sociedade da época. No fim das contas, Florbela é um filme interessante, de ritmo lento para seguir a proposta estética de sua narrativa, que tem sua atriz principal como grande destaque.

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