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    Run & Jump
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Run & Jump

    Solitários unidos

    por Bruno Carmelo

    Run & Jump é um filme que segue à risca a fórmula do indie americano, do tipo que costuma ocupar os festivais de Sundance e Toronto. Os protagonistas são pessoas solitárias, desajustadas socialmente, que se encontram por acaso e tornam a vida alheia um pouco melhor. A câmera é levemente tremida, a trilha sonora apresenta uma porção de canções pop melodiosas independentes, o roteiro segue os personagens em atos banais do dia a dia.

    No caso, a trama gira em torno de Conor (Edward MacLiam), marceneiro que sofre um derrame e perde parte das capacidades motora e linguística. A esposa dela, a extrovertida Vanetia (Maxine Peake) tenta se acostumar com a doença do marido, assim como o filho hostilizado pelo pai. Enquanto a família se ajusta à nova realidade, um pesquisador em distúrbios cerebrais, Ted (Will Forte), muda-se para a casa na intenção de acompanhar o progresso de Conor.

    O roteiro tem grande afinidade com o melodrama, acrescentando em ritmo regular uma sucessão de catástrofes: mortes na família, tentativas de suicídio, acessos de raiva, fugas, agressões homofóbicas, traumas na infância, paixões impossíveis. Felizmente, a diretora Steph Green mantém o tom no limiar do sentimentalismo, evitando os enquadramentos no rosto dos atores nos instantes mais dramáticos, ou cortando a cena antes de um momento de choro. Diante de tantas crises, Vanetia passa a impressão bem-vinda de ser uma mulher forte e determinada.

    Entretanto, os numeros conflitos criam a sensação de uma história artificial e um pouco arrastada, já que nenhuma destas cenas altera radicalmente os rumos da trama. Apesar da linearidade, Run & Jump traz instantes poéticos e bem construídos, como a reação de Vanetia durante um velório, ou o curto momento no lago, que confere o título ao filme. Entre meias lágrimas e meios sorrisos, Steph Green faz um filme agridoce, evitando propositadamente os momentos arrebatadores para investir na linearidade mais próxima do realismo.

    Run & Jump se conclui com um desfecho otimista, indicando a possível transformação interna de cada personagem. É uma mensagem previsível, mas retratada com delicadeza e bom domínio da linguagem cinematográfica – vide a interessante decisão de cortar o som dos últimos diálogos. O filme não traz ousadias estéticas ou narrativas capazes de destacá-lo de centenas de produções semelhantes, mas é admirável que a obra pouco conhecida, sem atores famosos no elenco nem prêmios importantes no currículo chegue aos cinemas brasileiros. Talvez uma aposta comercial ousada como essa merecesse, numa próxima oportunidade, um título que se comunicasse melhor com o público brasileiro.

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