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    Meu Verão na Provença
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Meu Verão na Provença

    A felicidade está no campo

    por Bruno Carmelo

    Entre os gêneros cinematográficos, talvez não exista algo que se possa chamar de “filme de férias”, mas você provavelmente conhece bem esse tipo de histórias. Elas começam com o início da viagem, e terminam com o retorno à casa. Os personagens são adolescentes, que não queriam fazer o passeio, mas descobrem através do contato com a natureza (os protagonistas sempre saem da cidade para explorar o campo) os primeiros amores, as drogas, as tristezas. Todos aprendem a se amar, a experiência é memorável e transformadora.

    Meu Verão na Provença segue esta cartilha à risca. Isto não constitui exatamente um spoiler, afinal, a produção francesa faz da previsibilidade seu ponto de partida. Na trama, dois adolescentes parisienses chegam à Provença e devem lidar com o avô que nunca conheceram. Os dois são mimados, dependentes do conforto e da tecnologia (“Mas não pega sinal de celular aqui? Como assim, vocês não compram chá orgânico?”), enquanto o avô faz o tipo bruto que nunca ouviu falar em computadores na vida (ele diz que o sobrinho vai pegar um “verme de computador”, ao invés de vírus). Ou seja, todos são limitados por não conhecerem o mundo um do outro.

    A diretora Rose Bosch poderia promover uma agradável crônica de costumes, mas prefere se apoiar em um roteiro fraquíssimo, no limite do absurdo. O filme é uma verdadeira feira de clichês, incluindo os caipiras fortes e brutos, os citadinos individualistas e arrogantes, os hippies que vivem de escambo e amor livre, a bela moradora da cidade que nada faz além de caminhar e sorrir. Não existe um único personagem de carne e osso nesta história que tenta extrair a fórceps uma ideia de integração nacional. Os conflitos se resolvem na base do otimismo: basta um pouco de amor para todos se entenderem. A sociedade francesa raramente foi vista de modo tão cor-de-rosa e inofensivo.

    Bosch não contribui muito à complexidade do projeto. Ela adota o mínimo esperado do cinema cartão postal: belas imagens ensolaradas do campo, planos e contra-planos nos diálogos, gruas se levantando para mostrar a imensidão dos plantios agrícolas. As reviravoltas mais importantes (o acidente de carro, a briga na festa) são retratadas sem sutileza alguma, em registro involuntariamente cômico. Adicione uma trilha sonora óbvia, com as canções mais famosas do indie folk, e diversas cenas da cultura sulista para obter um verdadeiro pastiche folclórico.

    Seria interessante dizer que pelo menos as atuações salvam o filme, que os novos atores tornam a projeção agradável. Mas os novatos Hugo Dessioux e Chloé Jouannet são limitados, caricatos, e o roteiro nunca sabe muito bem o que fazer com o garotinho surdo-mudo interpretado por Lukas Pelissier. O experiente Jean Reno se sai muito melhor, extraindo humanidade do avô embrutecido, fazendo uma composição simples, em olhares e silêncios. Já a pobre Aure Atika, atriz talentosa de filmes como Mademoiselle Chambon, é limitada ao papel da gostosa do vilarejo.

    Meu Verão na Provença lembra, por fim, uma festa à fantasia, com personagens vestidos de caipira, de vaqueiro, de hipster, de hippie. É difícil acreditar nestas pessoas, em suas reviravoltas e principalmente em sua redenção obtida pelo poder do amor e da família. A obra parece uma propaganda turística da Provença, embalada em um discurso moralista aos jovens (traficantes são seres malvados e perigosos, as meninas só devem perder a virgindade quando estiverem profundamente apaixonadas). Para um suposto feel good movie, o resultado é um tanto indigesto.

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