O Médico Alemão: Crítica AdoroCinema

Você já deve ter visto mais de uma vez no cinema norte-americano e europeu referências sobre nazistas se refugiando na Argentina ao final da Segunda Guerra Mundial. Se para Hollywood, o Brasil é o paraíso dos golpistas, a Argentina é o dos nazistas. Isso pode ser visto até mesmo em filmes como X-Men: Primeira Classe. Em O Médico Alemão temos um pouco desta história, mas sobre o olhar dos nossos hermanos.

Mas o que significa este olhar? Significa uma abordagem sensível, delicada e nada sensacionalista, como o cinema argentino tem se especializado em produzir através de diretores como Pablo Trapero (Família Rodante e Elefante Branco) e Juan José Campanella (O Filho da Noiva e O Segredo dos Seus Olhos). Diretora do bom XXY, Lucia Puenzo prova com O Médico Alemão que pode seguir o mesmo caminho dos conterrâneos.

Passado na Patagônia, o longa conta a história de uma família que está chegando em Bariloche para assumir uma hospedaria. No meio do caminho, eles conhecem o médico alemão Helmut Gregor, que acaba se tornando o primeiro hóspede da família. Ele demonstra um interesse muito particular na jovem Lilith, que tem um problema de crescimento. Com o apoio da mãe, que está grávida, Gregor começa a tratar da garota ao mesmo tempo que a ajuda no acompanhamento da gravidez.

O médico tem um interesse todo especial pela natureza humana, não se incomodando em usar uma pessoa como objeto de teste. O grande mérito está no fato do filme investir no drama ao invés de criar um thriller investigativo. Em alguns momentos até exagera um pouco neste sentido, forçando um mistério que é previsível desde o início. Ainda assim, o que chama mais a atenção é a relação entre Gregor e Lilith e a capacidade do primeiro de se fazer ouvir e ser seguido.

Wakolda (no original) conta com um elenco extraordinário, que evita excessos e situações melodramáticas. Alex Brendemühl e Florencia Bado vão muito bem como Gregor e Lilith, mas Natalia Oreiro, Diego Peretti e Elena Roger não ficam para trás.

Ainda que desde o início esteja clara a personalidade obscura do protagonista, o longa é muito competente no desenvolvimento da narrativa, fazendo com que a sensação de urgência vá crescendo de pouco em pouco.

Escolhido como representante argentino na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2014, O Médico Alemão evita clichês e não cria monstros. Foca em seres humanos... Capazes de atitudes monstruosas.