Confissões de Adolescente: Crítica AdoroCinema

Uma das boas coisas do cinema é surpreender. Isso pode acontecer quando você se vê diante de uma história estruturada, complexa, que provoca a sua reflexão, e também pode ocorrer com uma trama simples, bem bolada, dando seu recado, mesmo que não deixe as "boas sequelas" de uma história marcante. Confissões de Adolescente faz parte da segunda opção e a grata surpresa foi ver que o texto de enorme sucesso escrito por Maria Mariana há mais de 20 anos, sobre as angústias dos jovens, levou um banho "de século 21" e continua dialogando bem com essa turma, muitas vezes, incompreendida.

Nesta adaptação, quatro irmãs levam um breve choque de realidade, quando o pai (Cássio Gabus Mendes) avisa que eles precisam se mudar devido ao novo valor do aluguel. Refeitas do susto (e da revolta), elas pensam em ajudar no orçamento, mas existe uma outra mudança batendo à porta: a que acontece em suas vidas. Tina (Sophia Abrahão) cursa a faculdade e a mordomia de morar sozinha (bancada pelo pai) acabou, e o namorado cheio de dinheiro e vazio de perspectivas, é só mais um dos problemas de quem precisa arrumar logo um lugar no mercado de trabalho. O assunto profissão, aliás, é o que faz a irmã Bianca (Isabella Camero) bater de frente com o paizão, enquanto a desmioladinha Alice (Malu Rodrigues) anda às voltas com a primeira transa e parece só ter olhos (e corpo) para isso. Correndo por fora, a caçula e nerd Karina (Clara Tiezzi) mal se dá conta, mas vai descobrir que as "coisas do amor" também começam a valer para ela.

O grande barato dessa obra sempre foi o canal de comunicação aberto com os jovens, carentes de algo ou alguém, que falasse com eles e para eles. No roteiro atualizado de Matheus Souza (do premiado Apenas o Fim), essa conexão se mantém, discutindo os mesmos dilemas do passado, porque eles se repetem, mas com uma pegada mais moderninha e despojada. Os mais exigentes, é verdade, poderão cobrar que o filme fosse mais fundo nisso ou naquilo, mas aonde está escrito que tem que ser assim? Mais do que simbolizar uma cartilha de como devem ser tratados temas como sexo, amor, profissão, sexualidade, gravidez, aborto, bullyng, entre outros, um longa pode também ser visto como ferramenta para que esses assuntos venham à tona, de forma natural, numa roda de conversa entre pais e filhos, amigos, alunos e professores etc. E o melhor foi ver esses questionamentos em bons e divertidos diálogos, além de situações igualmente cômicas, tudo sob a batuta do veterano Daniel Filho, em parceria com Cris d'Amato. Outra boa surpresa.

Entre as curiosidades, participações afetivas das atrizes da versão original e uma boa trilha de clássicos da MPB ("Baby", "Neon", entre outras) super inseridas no contexto, com direito a versão cantada pela jovem Abrahão e também pelo elenco, nos bons créditos finais, que reserva cena adicional. O bom humor bate ponto o tempo todo, seja na (bizarra) tirada de sarro da saga Crepúsculo (fenômeno jovem), ou na brincadeira com o UFC (torneio de artes marciais), quando o aviso de que vai gozar durante o sexo oral será feito batendo-se três vezes na parceira. O mesmo vale para a dica da primeira transa, quando a candidata deve pensar em atores lindos, para relaxar, curtir e (depois) gozar, enquanto "ele" precisa pensar na mãe ou na professora, para evitar chegar ao orgasmo antes da parceira. Tudo, claro, para evitar a clássica primeira (meia bomba) vez. Em cena, os resultados são nada menos do que hilários. E o roteiro de Souza encontrou ainda espaço para homenagear, de forma deliciosa, o antológico papel do escurinho do cinema nas primeiras conquistas do amor. Com palavrões e alguma nudez, Confissões de Adolescente não é comportadinho, tem sua dose moderada de rebeldia e aborda com clareza as escolhas, sempre elas, que acompanham a vida de todos. Coitados dos adultos que ainda não sabem disso.