Show de caricaturas
por Lucas SalgadoUm dos grandes nomes da comédia nacional, Leandro Hassum alcançou o sucesso de público com as comédias Até que a Sorte nos Separe e Até que a Sorte nos Separe 2, que juntas foram vistas por mais de sete milhões de pessoas. Com isso, começou a aceitar um convite atrás do outro. Dublou personagens, entrou para a novela e fechou com alguns filmes. Um deles é Vestido pra Casar.
Infelizmente, a produção parece ter como único objetivo usar as caras e bocas do ator, deixando de lado qualquer preocupação com o roteiro e com o desenvolvimento da narrativa. Codirigido por Gerson Sanginitto e Paulo Aragão Neto, a partir do roteiro de Celso Taddei, Cláudio Torres Gonzaga e Audemir Leuzinger, o longa apresenta uma sucessão de esquetes, algumas até engraçadinhas e outras trágicas.
A premissa é a seguinte: Fernando (Hassum) vai buscar a noiva (Fernanda Rodrigues) no aeroporto no dia de seu casamento. Quando vai pegar o carro no estacionamento, ele acaba rasgando o vestido de uma ex-BBB (Renata Dominguez), que estava com o amante (Marcos Veras), que é segurança do marido dela, um senador poderoso e nervoso. O sujeito, ao invés de explicar para a esposa o que ocorreu, pega a ex-BBB e o amante e leva para sua casa. Eles acabam perseguidos por um paparazzi e são obrigados a se esconder ao mesmo tempo em que Fernando tenta encontrar um novo vestido e lidar com a família da noiva.
Hassum exagera nas caras e bocas, embora consiga arrancar alguns risos em momentos de claro improviso. Mas não dá para "soltar" o ator em cena e achar que vai levar o filme até o fim sem um trabalho consistente de direção e um roteiro que ao menos intrique o espectador. A partir do ponto de que toda a história principal é ridícula, fica difícil valorizar cenas isoladas.
Conhecido pelo trabalho no Porta dos Fundos, Veras não convence no tipo "segurança intimidador", se saindo melhor nos momentos em que se revela uma pessoa mais atrapalhada. Sua esposa, Júlia Rabello, está um pouco melhor, interpretando a ex-mulher de Fernando, que voltará a sua vida por trabalhar no ateliê do estilista responsável pelo vestido. Dominguez faz o tipo gostosa e histérica, enquanto que Rodrigues é a menininha discreta do interior. A última atriz, por sinal, tem a atuação prejudicada por ter se perdido um pouco no sotaque. Ela puxa o R em alguns momentos, mas em outros parece deixar pra lá.
Não bastasse todos os problemas e buracos no roteiro, Vestido pra Casar ainda faz piada com violência contra a mulher e possui dois personagens gay afetadíssimos. A comédia investe no estereótipo uma vez que não consegue construir personagens interessantes por si só. Como era de se esperar com esta fórmula, não funciona. Não bastasse isso, ainda arrisca alguns bordões que só tornam tudo mais contrangedor, como o "o casamento está acabado" ou "primo pode".