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    Batman Vs Superman - A Origem Da Justiça
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Batman Vs Superman - A Origem Da Justiça

    Heróis a la Michael Bay

    por Francisco Russo

    O início de Batman Vs Superman - A Origem da Justiça é promissor. Por mais que a morte do casal Wayne já seja figurinha mais que carimbada nas telas de cinema, a abertura associando a tragédia com a descoberta da futura batcaverna dá um tom de fábula sombria à história do pequeno Bruce. Um salto no tempo e, décadas mais tarde, lá está o agora grisalho Bruce em Metrópolis, cenário da épica batalha entre Superman e Zod em O Homem de Aço. Observar a luta entre os superseres sob o olhar de um humano, impotente e de certa forma maravilhado/assustado com tal descoberta, remete a uma série famosa dos quadrinhos: "Marvels". Há neste trecho uma certa poesia no contraste entre homens e deuses, mortais e imortais, que será trabalhada ao longo de boa parte do filme.

    A bem da verdade, há muito de conceitual em torno dos maiores super-heróis da DC Comics, pela primeira vez reunidos no cinema. Se o Superman de Henry Cavill assume de vez a aura de símbolo da pureza, que precisa lidar com o mal sempre tentando corrompê-lo, o Batman de Ben Affleck traz ecos da histórica saga dos quadrinhos "O Cavaleiro das Trevas". Obcecado e mais violento, ele é a representação da alma corrompida pelas agruras diárias do combate ao crime - uma alegoria que pode ser também aplicada à luminosa Metrópolis e à sombria Gotham City, cidades vizinhas como são Rio de Janeiro e Niterói. É no enfrentamento destas duas personificações, com direito a reflexos vinculados à origem de cada herói, que está o alardeado embate entre Batman e Superman. Passando ainda por temas pertinentes e bastante relevantes nos dias atuais, como xenofobia e a cultura do medo.

    Só que Zack Snyder não é - e nunca foi - um diretor afeito a desenvolver narrativas. Se a proposta é colocar Superman com ar messiânico, ele simplesmente cria uma cena em que o Homem de Aço surge envolto por luzes, como se santificado fosse, com uma família em apuros clamando por ajuda. Para Snyder, a imagem vale muito mais do que a dramaturgia e, também por um certo desprezo, suas opções sempre favorecem a plástica visual em detrimento do aprofundamento de qualquer tipo de conteúdo. Resultado: há no filme como um todo um certo tom exagerado, especialmente nas emoções retratadas. Não pode haver dúvida nem questionamentos, tudo tem que ser direto e bem didático, de preferência com alguma frase de efeito envolvida. E, se for necessário dar alguma dramaticidade à história, é simples: basta colocar tudo em câmera lenta e aumentar o som. Assim reza a cartilha cinematográfica de Snyder, mais do que nunca seguindo os ensinamentos de Michael Bay sobre como não contar uma história de forma envolvente.

    Entretanto, nem todos os problemas devem recair sobre o colo do diretor. Há em Batman Vs Superman um excesso de temas a serem abordados que, no fim das contas, prejudica as várias subtramas presentes, que ficam sem espaço para serem melhor trabalhadas. É assim que questões interessantíssimas, como a xenofobia, ficam relegadas aos cartazes de manifestantes, que sequer ganham voz em algum momento. O próprio ritmo do filme sai prejudicado, já que não é possível dosar as cenas de ação e de reflexão ao longo de cansativos 153 minutos. Na ânsia de reprisar o sucesso de Vingadores o mais rapidamente possível, a opção em embutir muito em um só filme, ao invés de desenvolver histórias de potencial em vários longa-metragens, soa como um tiro no pé, ao menos em relação à qualidade.

    Diante de tantos problemas de narrativa, é claro que o elenco é também afetado. Se Ben Affleck não compromete com um Bruce Wayne mais sisudo, Henry Cavill é de uma frieza impressionante (no mau sentido). É como se seu Superman fosse fechado em si mesmo, criando ao seu redor um manto de insensibilidade apenas quebrado quando sua amada Lois Lane (Amy Adams, burocrática) entra em perigo - uma situação que, de tão clichê, vira até mesmo argumento jocoso dentro do filme. Por mais que tal proposta seja fruto óbvio do deslocamento do filho de Krypton entre os terráqueos, ressaltando à sua maneira que o Homem de Aço não é humano, isto transforma Cavill em uma espécie de manequim fantasiado de super-herói, sem expressividade alguma. Inclusive, chama a atenção o fato de que este Superman e este Batman em momento algum conseguem conquistar a afeição do público, de tão mal desenvolvidos que são. O que não acontece com a Mulher-Maravilha, muito graças ao carisma de Gal Gadot e às boas cenas de batalha em que a amazona participa.

    Há também o Lex Luthor de Jesse Eisenberg. Com um jeitão descolado, roupas leves, pratica esportes e falando sem parar, ele está longe de transmitir o perfil ameaçador de seus antecessores - ou até o lado meio gaiato do saudoso Gene Hackman. É dele uma subtrama meio sem sentido envolvendo a personagem de Holly Hunter, assim como boa parte dos diálogos desconexos do filme. Mais Coringa do que propriamente Luthor, Jesse não convence. Só que, mais uma vez, a culpa maior recai no tom proposto ao personagem nesta nova recriação.

    Por mais que traga muitos problemas estruturais - todas as cenas de pesadelo são dispensáveis! -, Batman Vs Superman entrega o sonhado Universo Cinematográfico DC e até rende de forma satisfatória em seu terço final, quando as cenas de ação ganham espaço. Com elementos dos quadrinhos vistos em "O Cavaleiro das Trevas" e no combate do Homem de Aço com o vilão Apocalipse, o filme inicia a saga da Mulher-Maravilha nas telonas e ainda dá uma palinha de outros heróis que serão vistos em Liga da Justiça, o que com certeza agradará aos fãs. O preocupante é que, por mais que esteja sendo estabelecido um universo mais "realista" e "sombrio" - ao menos em comparação aos filmes da Marvel -, a aplicação equivocada de conceitos até interessantes (em alguns casos) resultou em uma colcha de retalhos muito mal desenvolvida por Zack Snyder e extremamente dependente do simbolismo em torno dos próprios heróis, ao invés de oferecer méritos próprios. E ele ser o "mentor" desta nova configuração pode até dar muito dinheiro (vide Michael Bay e seus Transformers), mas está longe de entregar qualidade a personagens que, por suas características e pelo que representam no imaginário pop atual, podem ser bem melhor empregados em mãos mais talentosas.

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