A culpa é da enfermeira
por Renato HermsdorffBaseado em um best-seller, filme aborda romance fofo de casal descolado, interrompido por uma questão de saúde/médica. Pois é, as semelhanças com o hit A Culpa é das Estrelas são inevitáveis neste Se Eu Ficar.
O que falta de carisma ao casal formado por Mia (Chloë Grace Moretz) e Adam (Jamie Blackley) – em comparação com Hazel (Shailene Woodley) e Gus (Ansel Elgort) do filme anterior –, no entanto, sobra em relação aos pais da protagonista desta nova produção destinada ao público adolescente. Denny (Joshua Leonard) e Kat (Mireille Enos) são ex-roqueiros que abriram mão da vida louca para criar os filhos, mas mantém uma camada de lama de Woodstock sob os sapatos.
Talvez por isso seja tão sofrido lidar com a morte dos ex-músicos (o que não configura, tecnicamente, um spoiler, porque essa informação está no trailer). Eles são responsáveis pelos melhores e mais sutis momentos do filme, graças às boas tiradas do roteiro - capitaneado por uma Mia que é uma versão mais xôxa de Hazel, embora Chloë Grace Moretz convença no papel (Jamie Blackley, menos).
“Não é incrível como a vida é uma coisa e, então, de repente, se torna outra?”, pergunta-se a personagem central. Ela se refere ao acidente automobilístico que vitimizou os seus velhos, logo no início do filme. O mote é interessante. A garota sobrevive, mas é internada em estado de coma.
A partir daí, a história se desenvolve em duas linhas paralelas. Através deflashbacks, passamos a conhecer a menina tímida dedicada ao violoncelo, que se apaixona pelo guitarrista popular mais velho. Ao mesmo tempo, acompanhamos a luta de Mia pela sobrevivência, circulando “literalmente” pelos corredores do hospital, pesando se vale a pena continuar a viver depois da tragédia.
Assim ela o faz porque uma enfermeira volta e meia sussurra palavras de efeito no ouvido da menina desacordada: “esse é o segredo, se você vai viver ou morrer, depende de você”. Difícil acreditar que a profissional teria tempo e disposição para isso nessa situação. O comportamento dela sintetiza o lado piegas do filme – o hospital é o cenário dos momentos melodramáticos, com direito, inclusive, a luz no fim do túnel. A culpa é da enfermeira.
Por outro lado, a história cronológica do passado de Mia, do leve e bem-humorado conflito de gerações que opõe pais roqueiros e filha amante de música clássica, funciona. “Ele somos nós”, diz o pai em um dado momento, sobre Adam. “Esse é o problema”, responde a mãe (como dito anteriormente, são deles as melhores piadas).
A julgar pelo presente (coma), Se Eu Ficar é o típico filme feito para chorar – apelativo, recheado de clichês. Conhecendo o passado (flashbacks) dos personagens, porém, fica difícil não se apegar à família que muitos gostariam de ter como sua. E é aí que o filme “para chorar” cumpre seu objetivo.