Filme de verão
por Francisco RussoO verão é especial em todo lugar, seja pelas altas temperaturas ou pelo clima de férias que acomete parte da população, associado ainda ao horário especial que atrasa ainda mais o pôr do sol. Diante deste período especial que, ano após ano, deixa marcas de sol e na cultura, o cinema brasileiro vez por outra investe em filmes que tentam captar este clima festivo. Foi o caso de Muita Calma Nessa Hora, situado praticamente todo na cidade balneária de Búzios, e é também de sua sequência, estabelecida no Rio de Janeiro. Por mais que os locais sejam diferentes, o trinômio sol, mar e festa é o mesmo. Ou seja, muda-se o ambiente mas não o clima da história.
Mas mudar para quê? Muita Calma Nessa Hora foi um sucesso inesperado de público, com pouco mais de 1,3 milhão de espectadores. A proposta de mostrar as desventuras de um quarteto feminino rodeado de participações especiais de comediantes de várias gerações caiu no gosto popular e, com isso, é mais uma vez reprisado. Alguns retornaram com ainda mais espaço, como Marcelo Adnet, Lúcio Mauro Filho e Maria Clara Gueiros; outros estreiam na série, como Hélio de la Peña, Rafael Infante e Paulo Silvino. Mais uma vez, pouco importam os nomes. A fórmula estabelecida no primeiro é mais uma vez aplicada, conceitualmente falando. Diante disto, a sequência é tão boa quanto o original? Não.
Não que Muita Calma Nessa Hora seja um filme ruim. Bem humorado e despretensioso, tinha personagens carismáticos em uma história quase adolescente (ou jovem adulto, termo da moda). Ou seja, cumpria bem sua função. O problema de Muita Calma Nessa Hora 2 é o mesmo de boa parte das continuações produzidas mundo afora: ao se prender à uma fórmula de sucesso, acaba se repetindo. É o que acontece com os personagens de Adnet e Lúcio Mauro Filho, cujas piadas são exatamente as mesmas do original - até mesmo a cena do "vomito" e dos "equipamento" está lá, repaginada. Além disto, há no roteiro uma certa frouxidão em relação às quatro protagonistas. Se o primeiro trazia uma história amarradinha em relação às garotas, aqui elas são meio largadas. É bem verdade que o clima de pegação do primeiro filme ficou para trás, aqui elas surgem mais maduras (o que não significa que tenham perdido suas peculiaridades). Ainda assim, a impressão que fica é que elas são coadjuvantes de seu próprio filme, tendo que disputar espaço com o verdadeiro astro do longa-metragem: o festival de música. Este, por sinal, é o grande trunfo da sequência.
É justamente o festival O Som do Rio que traz algum frescor a Muita Calma Nessa Hora 2. Nem tanto por suas ligações com as protagonistas, mas por suas próprias características. Se há bandas verídicas como Jota Quest e Chiclete com Banana (gancho óbvio!), há também paródias bem sacadas ao Los Hermanos e ao sertanejo universitário. Este último ganha de Bruno Mazzeo uma recriação bem divertida, com todos os estereótipos possíveis - especialmente a insólita canção "Paracadá", cuja letra merece ser acompanhada em detalhes durante os créditos finais.
Em meio às repetições e uma certa falta de rumo de seus personagens principais, Muita Calma Nessa Hora 2 caminha no sentido de mais uma vez entreter o espectador com um filme leve e despretensioso. Até consegue, em certos momentos. Maria Clara Gueiros é, de longe, a melhor do numeroso elenco e merecem destaque as breves referências espalhadas, como ao filme O Poderoso Chefão e à novela Avenida Brasil. Fosse menos excessivo com Adnet e Lúcio Mauro Filho e mais coeso em relação às protagonistas, o filme seria melhor. Mas atende bem ao espírito do (filme de) verão: solar, com uma certa dose de diversão e efêmero.