Puristas, cuidado!
por Renato Hermsdorff“Há tristeza nos seus olhos. É lindo”. Esse é o comentário que Pierre (François Cluzet, de Intocáveis, 59 anos) faz quando conhece Elsa (Sophie Marceau, 007 - O Mundo Não é o Bastante, 48). São, claro, franceses.
O amor na maturidade não é um tema tão explorado no cinema. E quando o é, ou se tratam de personagens calejados pela vida, como no ótimo Tinha que Ser Você (2008), ou fadado à falência física, como em Amor (2012) – que, no entanto, acompanha um casal bem mais velho –, para citar dois exemplos recentes. Ou seja, com fortes tendências ao (melo)drama.
Mas Pierre e Elsa não têm do que reclamar da vida. Ele é um advogado de sucesso, que vive um bom casamento com Anne (Lisa Azuelos, de Rindo à Toa, que também dirige o filme), é um pai devotado. Ela (linda) é uma escritora bem-sucedida, recém separada (mas de casinho com um rapaz mais jovem), e tem dois filhos adolescentes. Esse é o diferencial do filme: eles são felizes.
Quando se conhecem, no lançamento do último livro dela, apresentados por um amigo em comum, há um clique entre os dois. Vale a pena deixar esse botão apertado? Bem resolvidos, essa é a decisão que os personagens terão de tomar.
O vai-não-vai dá a tônica da primeira metade do filme. Acidentalmente – ou não –, os personagens vivem se encontrando. É um clima de sedução que os coloca em uma posição adolescente, bonita de se ver.
Bonita mesmo, porque a produção traz uma fotografia caprichada, publicitária no bom sentido, que (quase) abusa de halos quando o casal central está em cena. A trilha, recheada de releituras de canções (norte-americanas) conhecidas também contribui para o clima. Mas é a montagem, dinâmica, o ponto alto entre os aspectos técnicos.
Apesar do enredo simples demais, os diálogos conseguem captar com charme e verossimilhança as situações do cotidiano. O longa-metragem ganha um quê de física quântica na segunda metade, um acerto, mas perde o ritmo, já que o conflito não tem muito para onde ir e, por isso, fica um pouco repetitivo.
Para o desespero dos puristas, que esperariam um filme “francês”, artístico, portanto, Une Rencontre (no original) é bem resolvido como seus personagens e, acima de tudo, jovial. Na “vida real”, quem já passou dos 50 não necessariamente está numa posição desprivilegiada na vida.