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    A Coleção Invisível
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    A Coleção Invisível

    Despedida digna

    por Francisco Russo

    A Coleção Invisível entrou para a história por um motivo que nada tem a ver com suas qualidades e defeitos. Trata-se do último trabalho em cinema do ator Walmor Chagas, que cometeu suicídio em 18 de janeiro de 2013, meses antes de seu lançamento comercial. Seja por reverência à grandeza de seu trabalho ou até por uma certa curiosidade mórbida, é impossível negar que este fato aumentou a curiosidade em torno do filme de estreia do diretor Bernard Attal. Diante de tamanha expectativa, fato é que A Coleção Invisível é um filme correto, com problemas mas também com algumas características que o tornam bem interessante.

    A história na verdade é protagonizada por Vladimir Brichta, cujo personagem parte para o interior da Bahia em busca de um colecionador que, décadas atrás, comprou algumas gravuras preciosas de seu pai, um vendedor de antiguidades destes que rodava várias cidades do país. Esta viagem leva Beto (Brichta) a um passeio por uma Bahia bem diferente da popularizada por Jorge Amado, onde há um ar de decadência nas grandes fazendas. Este fato, e apenas este, já seria suficiente para diferenciar o filme de seus conterrâneos baianos, justamente por fugir dos clichês básicos do estado. Outra surpresa vem do próprio Vladimir Brichta, que deixa de lado o tom cômico tão trabalhado por ele em seus papéis televisivos (e até mesmo no cinema) para compor um personagem sério, que logo de início é atingido em cheio por uma tragédia pessoal.

    Apesar destas "novidades" (que na verdade nada mais são do que uma variação sobre o mesmo), o filme peca por algumas falhas de roteiro. A começar pela própria tragédia que dá início ao filme, esquecida por completo após Beto se interessar pela busca das gravuras. Há também um descompasso no relacionamento entre Beto e Saada (Ludmila Rosa), onde tapas e beijos surgem com uma rapidez um tanto quanto inconsistente (e até surpreendente). Entretanto, nada é mais grave do que o próprio título do filme, que simplesmente entrega o desfecho da história. Por mais que ela seja até esperada, tamanho spoiler escancarado chega a ser até mesmo frustrante.

    Mesmo com estes problemas, A Coleção Invisível é um filme que consegue prender a atenção do espectador com sua história bem contada e bem interpretada. Neste ponto é importante ressaltar o trabalho do próprio Walmor Chagas, premiado com um Kikito de Ouro póstumo no Festival de Gramado, que chama a atenção pela vivacidade do olhar ao interpretar o colecionador. É ele quem consegue transpor para a tela o pouco de emoção existente na história, fazendo de sua atuação uma despedida digna de uma carreira de mais de 60 anos. Bom filme.

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