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    Dores de Amores
    Críticas AdoroCinema
    2,0
    Fraco
    Dores de Amores

    Em busca do recomeço

    por Francisco Russo

    "É hora da destruição de velhos valores". Assim começa Dores de Amores, versão para as telonas da peça teatral homônima escrita por Leo Lama, que fez sucesso em sua trajetória pelos palcos cariocas entre 1989 e 1990, na época encenada por Malu Mader e Taumaturgo Ferreira. Desta vez quem assume o casal protagonista são duas figurinhas bem conhecidas da sétima arte nacional: Milhem Cortaz, o capitão Fábio dos dois Tropa de Elite, e Fabiula Nascimento, de Estômago e Bruna Surfistinha. São eles os responsáveis por trazer este casal em crise que, sem saber o que fazer para salvar o relacionamento, começa a analisar alternativas um tanto quanto ousadas.

    Para esta adaptação cinematográfica, o próprio Leo Lama fez alterações no texto original - é só reparar nas citações ao ataque a Nova York em 11 de setembro de 2001, que ainda não tinha ocorrido quando a peça foi lançada. Ainda assim, são detalhes que não alteram a essência da história. O tema da crise é permanente, seja através da rispidez com que os personagens principais se tratam ou pelo simples fato de que eles não conseguem mais ter relações sexuais. O motivo, nenhum deles sabe, o que só aumenta a frustração de ambos. À primeira vista, pode-se dizer que eles estejam na fase terminal do relacionamento, mas o desenrolar da trama mostra que não é bem assim.

    Apesar de bem intencionado, Dores de Amores possui alguns problemas sérios. A começar pelo próprio roteiro, que mantém a estrutura teatral de muitos diálogos em poucos cenários e com uma quantidade ainda menor de personagens envolvidos. Se por um lado busca uma fidelidade ao texto original, por outra deixa a história um tanto quanto arrastada, também porque há um certo equívoco na forma como o personagem de Milhem Cortaz é desenvolvido. Mesmo sendo ele o alvo da proposta inusitada para salvar o relacionamento, o que naturalmente o deixaria acuado, há uma tentativa de dar ao personagem um tom irônico e até de humor que não se encaixa bem na trama como um todo. Com isso, as mudanças de entonação de voz e certas brincadeiras de duplo sentido tornam-se bobas, por banalizarem o que o filme realmente tem a discutir: a questão do comprometimento com o outro. Apenas já perto do final, não sem antes fazer outra brincadeira tola envolvendo o porteiro Jesus, que este assunto é realmente trabalhado pelo filme.

    Diante disto, Dores de Amores acaba sendo um filme que tem algo a dizer, de forma até mesmo corajosa, mas não consegue alcançar o potencial do material que tem em mãos por priorizar situações que não têm nem metade da importância, mas acabam funcionando como um certo alívio cômico - para quem gosta das piadas, é claro. O destaque acaba sendo a atuação de Fabíula Nascimento, que brilha especialmente quando enfrenta o namorado.

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