Um sonho possível
por Francisco RussoTodo mundo gosta de uma história de superação. Serve para atenuar um pouco a brutalidade da vida, mostrar que é possível vencer adversidades, independentemente do tamanho que elas sejam. Apenas uma Chance está na lista dos chamados “filmes de auto-ajuda”, que relatam com dedicação a batalha travada por alguém que tinha tudo para dar errado e que, pelos caminhos tortuosos da vida, vê tudo mudar graças a uma enorme persistência, colocada à prova em diversos momentos.
O foco do filme é Paul Potts, pouquíssimo conhecido no Brasil mas que se tornou uma celebridade na Inglaterra ao vencer a primeira edição do programa Britain’s Got Talent, em 2007. Não fique chateado com este spoiler, pois o que importa aqui é a trajetória e não o desfecho, óbvio mesmo para quem nada sabe sobre o personagem principal. Nascido no País de Gales, Potts desde criança tinha um imenso fascínio por música clássica, por mais que a pequena cidade em que vivesse pouco tivesse de cultural. Isto lhe trouxe o bullying constante de alguns colegas de colégio, além do descrédito do próprio pai, que não via futuro no sonho do filho em se tornar tenor de ópera.
Para contar este princípio de trajetória, o diretor David Frankel (o mesmo de O Diabo Veste Prada e Marley & Eu) optou por uma saída fácil: explorar o clichê do gordinho tímido e desajeitado, personificado por Potts. Com isso, logo de cara conquista a simpatia do espectador. Para completar o pacote, Frankel ainda tira da manga outros dois truques conhecidos: uma série de situações fofinhas de início de namoro, aliadas à já conhecida ingenuidade do jovem, e o típico humor inglês, que faz piada de si mesmo sem perder a esportiva. O cenário está completo com a presença do melhor amigo, nerd, que dá todo o apoio possível e a mãe afetuosa, que apenas deseja ver a felicidade do filhote. É hora então das rasteiras que a vida dá e o inevitável levantar a cabeça para seguir em frente.
Por mais que a história de Potts seja até interessante, pelos desafios físicos e psicológicos que teve que superar, Apenas uma Chance tem como grande revés o uso excessivo de estereótipos para contar sua trajetória. Seja pelos truques já citados ou pela exploração constante das imagens de Veneza (sempre bela, ainda mais sob a luz do verão), aliada à criação de um suposto triângulo amoroso um tanto quanto vazio (e desnecessário). James Corden até segura bem o protagonista do filme, mas quem se destaca mesmo no elenco é Alexandra Roach, intérprete da namorada de Potts - também porque Julie Walters é mal aproveitada dentro da história, com poucas cenas. Um filme razoável, que pode até deixar uma sensação agradável ao término da sessão mas que dificilmente resistirá ao tempo, pelo maniqueísmo com que sua trama é apresentada. Mero passatempo.