Entre milagres e pragas
por Lucas SalgadoMais novo filme de Ridley Scott, Êxodo: Deuses e Reis faz uma boa parceria com outro longa lançado em 2014: Noé, de Darren Aronofsky. Em comum, as produções possuem o tema bíblico, mas também a forma ousada em que pretendem contar suas histórias. Sem se prenderem completamente ao que já está escrito, os longas tentam jogar uma nova luz sobre tais acontecimentos da Bíblia.
Partindo do ponto de que não possui monstros de pedra, Êxodo é mais "realista" (com muitas aspas) do que Noé. Scott faz a opção de contar a história da mesma forma como retratou a retomada de Jerusalém pelos muçulmanos em Cruzada. Tudo é tratado de forma épica e com muita ação, algo que o diretor também não economizou em Gladiador.
Não se trata de um grande filme (a não ser se olharmos apenas pelo lado da duração, afinal possui longos 151 minutos), contando com problemas de ritmo e alguns personagens desnecessários, como Tuya (Sigourney Weaver, que volta a trabalhar com o diretor após Alien, o 8º Passageiro e 1492 - A Conquista do Paraíso). Por outro lado, conta com boas presenças de Christian Bale e dos irreconhecíveis Joel Edgerton, Aaron Paul e Ben Mendelsohn.
Bale tem ótimas cenas, criando um personagem mais complexo que o Noé de Russell Crowe. Enquanto aquele aceitava até as últimas consequências os desejos de Deus, Moisés é mais crítico, não deixando de contestar suas atitudes, em especial com relação às pragas que aplica no Egito.
O elenco conta ainda com as participações de John Turturro, Ben Kingsley, Indira Varma e Hiam Abbass. Os dois veteranos mantém a competência de sempre, embora em alguns momentos pareçam no piloto automático.
Em pouco mais de dois anos, Scott lançou Prometheus, O Conselheiro do Crime e agora Êxodo. Ninguém em Hollywood consegue fazer projetos tão grandes em tão pouco tempo. Mas a verdade é que não tem conseguido fazer que a quantidade também signifique qualidade. Seus filmes têm virtudes, mas estão sempre com algo faltando. Aqui, o que falta é emoção. Os efeitos são incríveis, o trabalho de som e a fotografia também, mas não há emoção. É difícil imaginar alguém chorando ao assistir este longa. O único momento em que o filme toca o espectador é já nos créditos finais, quando Ridley coloca uma dedicação ao irmão Tony Scott, falecido em 2012.
Não vou dizer que só Deus salva, mas umas das coisas que fazem deste filme algo melhor é a forma como retrata o Deus do Antigo Testamento, que é visto em cena como uma criança. Apesar do pouco tamanho, Deus aparece sempre como uma figura certa de suas atitudes e também ameaçadora. Não é aterrorizante, mas não seria surpresa se Scott revelasse ter baseado seu Deus em garotos de filmes de terror, como A Profecia.