Pé no freio
por Francisco RussoA série Need for Speed é famosa pelas corridas em veículos estilosos realizadas em locais inusitados, permitindo ao jogador viajar pelo cenário em meio a uma pitada de ilegalidade. Sim, pois disputas clandestinas e fugas da polícia são figuras constantes nos jogos da série. Diante do estrondoso sucesso da franquia Velozes & Furiosos, parecia natural que uma adaptação para as telonas surgisse a qualquer momento. O que não se esperava era que o filme fosse tão desleixado em questões tão cruciais.
A história desanda já na ambientação dos personagens principais. Tudo gira em torno de Tobey Marshall (Aaron Paul, da série Breaking Bad, bem apático), o dono de uma oficina gente boa que pratica uns rachas no tempo livre. Um dia, ele recebe o convite de um desafeto (Dominic West) para ajudar na construção de um carro mítico, visando uma venda futura. Precisando da grana, ele topa. Serviço feito, os dois acabam duelando em um racha decisivo e... um grande parceiro de Tobey morre. Resultado: o herói vai para cadeia e, dois anos depois, ressurge disposto a participar de uma corrida clandestina. É claro que o vilão da história estará também na disputa.
Problema número um: o visual é clean demais, abusando da claridade. Para uma ambientação com um pé no underground, isto torna a história como um todo ainda menos convincente. A escolha do elenco principal, repleta de atores brancos que não transmitem a menor impressão de algum dia terem sujado as mãos de graxa, também não ajuda nem um pouco. Isto sem falar na mocinha da história (Imogen Poots), sem a menor química com Aaron Paul e com um sotaque britânico cuja única função é dar um falso ar excêntrico à personagem.
Problema número dois: o roteiro é muito ruim! E não é nem em relação às peripécias dos carros, já que a mentirada nas cenas de ação é algo que faz parte de filmes deste tipo - e, quando bem feitas, podem até ser um de seus pontos fortes. Repleto de clichês, o filme abusa bastante da boa vontade em certas cenas. Exemplo? Quando um dos personagens, já preso, pede à carcereira um iPad para assistir a uma corrida clandestina online - e consegue!!!
Problema número três: o filme demora demais a dizer a que veio. Toda esta introdução descrita no segundo parágrafo leva mais da metade do filme. Além de ser bastante previsível, esta lentidão ainda impede que o espectador veja o que há de mais interessante: a tal corrida clandestina que Tobey tanto busca! E, quando ela enfim acontece, ainda por cima decepciona pela ausência de disputa nas primeiras colocações. Falta adrenalina, combustível primordial em filmes deste tipo.
Diante destes problemas, Need for Speed acaba se arrastando por burocráticos 130 minutos. Há alguns pontos interessantes, é verdade. As capotagens são, de longe, o que há de mais atraente no filme e acabam compensando - em parte - a pouca emoção presente nas corridas. Michael Keaton chama a atenção como o empolgado organizador da De Leon - a tal corrida clandestina -, por mais que seja duro de engolir o fato de ninguém saber sua identidade se o próprio aparece, ao vivo e a cores, nas transmissões via web. Há ainda as brincadeiras, algumas divertidas, envolvendo o piloto Maverick, cujo nome é uma clara alusão ao personagem de Tom Cruise em Top Gun.
Como um todo, Need for Speed é um filme bem decepcionante que, mesmo em meio às produções baseadas em carros, deixa a desejar. Qualquer exemplar da série Velozes & Furiosos é superior.