Clube dos suicidas felizes
por Bruno CarmeloPara apreciar esta comédia dramática, primeiro você precisa aceitar a premissa um tanto absurda: quatro indivíduos pouco ou nada angustiados se encontram no topo de um prédio, ao mesmo tempo, com a intenção de se matar. Eles instantaneamente fazem piadas uns com os outros (“Você me empresta a escada depois de pular?”), assinam um pacto de permanecerem vivos e tornam-se melhores amigos. No mesmo instante, aparece o sol para iluminar seus rostos e despertar um sorriso em cada um. Esta poderia ser toda a história de Uma Longa Queda, mas é apenas a cena inicial.
Dali em diante, cada um se apresenta em voz off, de maneira linear e pedagógica, dizendo porque pensou em terminar os seus dias. Não espere grande complexidade psicológica: este filme é menos sobre as razões que levam uma pessoa ao suicídio do que sobre as razões que nos deveriam dar vontade de viver. Por isso, o grande suspense colocado pela narrativa (“Será que eles vão manter o pacto e permanecer vivos até o Dia dos Namorados?”) não deixa nenhuma dúvida. Você acha que eles terminarão sorridentes e unidos, ou estatelados no chão, em uma poça de sangue? Ganha um doce quem adivinhar a resposta.
Uma Longa Queda é baseado em uma obra literária, algo perceptível pela pressa com a qual o roteiro insere reviravoltas (resultado típico de adaptações). As decisões dos personagens, entre tornar-se famosos com a tentativa fracassada de suicídio e viajar juntos para esquecer a atenção da mídia, acontecem de maneira tão veloz que não parecem verossímeis. Ao menos, o roteiro resiste à tentação imediata de casar o homem de meia-idade (Pierce Brosnan) com a mulher de meia-idade (Toni Collette), e o jovem garoto (Aaron Paul) com a jovem garota (Imogen Poots).
Se a reconciliação com a vida não ocorre através do romance, ele acontece pela amizade e pela família. Poucos dias após o encontro no alto do prédio, os quatro estão viajando em um lugar paradisíaco, bebendo, rindo, dançando. Julgando por essa trama, tudo o que você precisa é ter amigos – e também dinheiro para uma viagem chique a um destino exótico.
O roteiro faz grande esforço para combinar cenas dramáticas com momentos cômicos, embora a parte humorística seja de longe a mais fraca. As piadas com um político (Sam Neill) e um drogado (Josef Altin) beiram o constrangimento, mas lá pela segunda metade da história, embora os quatro não convençam como suicidas em potencial, pelo menos tornam-se comoventes como figuras solitárias. As talentosas Toni Collette e Imogen Poots parecem se divertir bastante com as suas personagens – uma introvertida demais, a outra extrovertida demais – e esse prazer de atuação é transmitido ao espectador.
De qualquer maneira, é difícil assistir a Uma Longa Queda e não pensar nos discursos de autoajuda, aqueles que insistem que o segredo é ser feliz, basta fazer um esforço e ter pensamentos positivos. O roteiro não cita religiões, mas a trama possui um aspecto místico, transcendental, seja pelo encontro dos quatro durante a tentativa de suicídio (um golpe “do destino” feito para salvá-los), seja pela direção que usa a meteorologia e as paisagens para transmitir estados de espírito: neve e cidade são símbolos de tristeza, praia e pôr do sol representam a alegria. Uma Longa Queda retira seus personagens do purgatório rumo ao paraíso, sugerindo que a tentativa de suicídio pode, sim, ser uma boa oportunidade para conhecer novas pessoas e recomeçar do zero. Fica a dica.