Minha conta
    Planeta dos Macacos: O Confronto
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Planeta dos Macacos: O Confronto

    De Darwin para Freud

    por Renato Hermsdorff

    Para quem espera uma produção darwinista (afinal, estamos falando da evolução dos primatas), os roteiristas (são três: Rick JaffaAmanda Silver e Mark Bomback) de Planeta dos Macacos: O Confronto, dão uma rasteira no tempo e entregam um filme freudiano.

    Isso porque, se em A Origem, a discussão central girava em torno das capacidades cognitivas dos primatas, neste novo, O Confronto, o foco é redirecionado para a cultura, a organização social – e não só dos símios, como dos seres humanos também. E, assim, se aprofunda mais uma camada no confronto homem vs. natureza. Uma inteligente aposta do novo filme da franquia, que Matt Reeves (Deixe-me Entrar) passa a comandar.

    Dez anos depois da batalha na Golden Gate Bridge, em São Francisco, o futuro da raça humana está ameaçado. Uma doença, chamada gripe símia (que, no entanto, foi desenvolvida por humanos em laboratório) dizimou grande parte da população mundial. Sem energia elétrica, um grupo de sobreviventes liderados por Malcolm (Jason Clarke) precisará entrar na floresta dos chimpanzés para negociar com César (Andy Serkis, mais uma vez digitalizado pela técnica de motion capture) e sua trupe para tentar reativar uma usina localizada no território dos primatas.

    Esse encontro é o que move a primeira metade do filme. Um prólogo redondo, fechado – embora  açucarado demais, em defesa da família e da propriedade. O bom roteiro mostra uma sociedade humana mais arrasada do que nunca, ao passo que a organização social dos símios também atingiu uma complexidade sem precedentes. Não há (pelo menos em princípio) um grupo dominante.

    O que há é humanos que também se comportam como animais e primatas que, às vezes, agem de acordo com as mais desenvolvidas regras de convivência dos homens. Nem sequer é possível ter certeza a respeito de quem começou o tal confronto que o título anuncia. Seria, então o triunfo do indivíduo, independente da espécie? Também não é simples assim.

    É no confronto, no entanto, que reside o maior problema do filme. Se antes havia um certo excesso de sentimentalismo, o que sobra nessa segunda metade é cenas de ação – diga-se, muito bem filmadas. E muita reviravolta. Com cerca de 2h10min de duração, Planeta do Macacos: O Confronto seria um filme mais impactante se tivesse meia hora a menos.

    A impressão que dá, tamanha a disparidade entre as duas partes do filme, é que, para agradar àqueles mais ávidos pela pirotecnia de Hollywood (não à toa o novo Transformers já é o maior sucesso comercial do ano), foi imposto ao diretor que caprichasse na duração das (mais uma vez, bem feitas) cenas de ação.

    Descontados os excessos, a transição para um novo elenco, no entanto, é muito, muito bem resolvida pelos autores. Eles não omitem o passado de César (o que dá a liga entre os dois filmes), ao mesmo tempo em que conseguem deixar o que ficou para trás, atrás (afinal, lá se vai uma década).

    Embora Jason Clark não tenha o carisma de James Franco, segura muito bem o desafio de líder dos humanos (papel também desempenhado, antagonicamente, por Gary Oldman, sem brilho, como nos últimos filmes em que atuou, como Robocop e Conexão Perigosa). Já Andy Serkis... quando mesmo vão indica-lo ao Oscar?

    O que sobra de Planeta dos Macacos: O Confronto é um filme longo demais, porém complexo, no bom sentido, do tipo que consegue combinar entretenimento e reflexão.

    Quer ver mais críticas?
    Back to Top