Bond Bond
por Lucas SalgadoLançado há três anos, 007 - Operação Skyfall representou um marco na história de James Bond nas telonas. O personagem mantinha seu glamour, mas oferecia muito mais urgência e força. Era um homem traumatizado por acontecimentos em sua vida que era obrigado a confrontar um vilão inesquecível, que não queria saber de dominar o mundo, mas apenas de destruir o herói. O filme contava com elementos clássicos da franquia, mas também não evitava o novo, surpreendendo a todos ao colocar Judi Dench como a principal "Bond Girl" da produção.
Pois bem, 007 Contra Spectre não é Skyfall. Estamos diante de um "Bond Bond". É um clássico filme da franquia, respeitando todo o formato e todos os clichês, mas não traz novidades. Não há diferencial. Por outro lado, é importante destacar que pode não ser o melhor, mas também não é o pior longa desta nova safra, sendo superior a 007 - Quantum of Solace.
Após os trágicos acontecimentos no anterior, uma nova pista leva Bond ao México e, em seguida, a Roma, Áustria e por aí vai. Aos poucos, ele descobre a existência de uma organização secreta internacional que parece ligada a todos os problemas que enfrentou anteriormente. A mesma é liderada por um homem misterioso (Christoph Waltz), cujo passado também está ligado ao de 007.
Ao mesmo tempo em que o herói está ocupado com a investigação, o serviço secreto britânico passa por uma mudança importante, com M (Ralph Fiennes) sendo obrigado a lidar com nomes do governo mais interessados em vigilância global e drones do que em manter agentes com licença para matar.
Se é difícil até lembrar a Bond Girl de Skyfall, aqui voltamos a ter figuras femininas sexy importantes na trama. Quer dizer, uma é realmente importante (Léa Seydoux), com as demais servindo mais para contagem de fãs de quantas mulheres dormiram com o personagem, como são os casos de Monica Bellucci e Stephanie Sigman.
A dinâmica lembra um pouco a de 007 - Cassino Royale, com direito a viagem de trem com herói e mocinha flertando um de frente pro outro numa mesa. O vilão também está no mesmo nível do visto em Cassino, longe do Silva de Javier Bardem, mas infinitamente superior ao de Quantum (qual era o vilão mesmo?). Neste sentido, cabe elogiar Christoph Waltz, que entrega uma atuação bem mais contida do que a vista em Quero Matar Meu Chefe 2 e Grandes Olhos, para citar dois exemplos recentes. Ótimo nas parcerias com Quentin Tarantino (Bastardos Inglórios e Django Livre), o ator parecia destinado a viver sempre o mesmo tipo de papel. Aqui ele oferece algo diferente, embora apresente um ou outro maneirismo.
Mas o grande destaque da produção, como não poderia deixar de ser, continua sendo Daniel Craig. O astro possui um vigor impressionante nas cenas de ação e uma intensidade que dá mesmo a impressão de que pode conquistar ou lidar com qualquer pessoa que passe por sua frente.
Escrito por John Logan, com a colaboração de Neal Purvis e Robert Wade, o roteiro falha naquilo que Cassino e Skyfall acertaram em cheio: produzir uma carga dramática ao personagem. A trama até insere elementos dos filmes anteriores e faz muitas menções a traumas passados, mas em nenhum momento consegue inserir peso dramático a tais referências. Fala em dor, mas não transmite. E ainda deixa uma série de questionamentos sobre a infância do herói e do vilão.
Conhecida pelo trabalho em Azul é a Cor Mais Quente, Léa Seydoux está bem na pele da Bond Girl clássica, embora seja clara a intenção do longa em transformá-la no que foi Eva Green no primeiro. Curiosamente, as duas são atrizes francesas.
O elenco conta ainda com Dave Bautista, na pele de um vilão forte (muito forte) e calado, que parece até uma homenagem ao clássico Jaws, vivido pelo recém-falecido Richard Kiel. Andrew Scott, Ben Whishaw e Naomie Harris surgem bem em papéis secundários, especialmente Whishaw, que interpreta um Q leal a Bond, mas com opiniões e vontades próprias.
Spectre começa de forma incrível, com Bond em meio a celebração do Dia dos Mortos no México. A cena inicial é um plano-sequência incrível, com a câmera navegando pela frente, pelas costas e por cima do protagonista, chegando até a assumir o ponto de vista subjetivo. O diretor Sam Mendes realiza um trabalho competente, com grandes tomadas e cenas de ação, mas sem profundidade gramática.
Mas nem tudo merece destaque na competente fotografia do holandês Hoyte Van Hoytema, que já havia brilhado antes em O Espião que Sabia Demais e Interestelar. Ele faz uma opção um pouco questionável no trabalho com o foco, ajustando o mesmo rapidamente em vários momentos. Em algumas cenas, funciona bem, principalmente quando temos duas pessoas em cena e o foco muda de uma para a outra. Mas em outros momentos, parece apenas um artifício técnico sem importância narrativa.
Outro problema é a trilha sonora de Thomas Newman, que é excessiva e ainda deixa um pouco de lado o tema clássico de Monty Norman. Neste sentido, também decepciona a música-tema de Sam Smith, "Writting´s On The Wall", que acaba prejudicando uma abertura visualmente atraente e servindo quase como um anticlímax.
Ainda assim, o filme oferece um bom entretenimento e irá saciar a vontade dos fãs de reencontrar James Bond e seu universo clássico. Poderia apenas oferecer mais elementos não necessariamente novos, mas que tirassem a trama do lugar comum.