Tudo de novo
por Lucas SalgadoO Ataque é tudo o que você pode esperar de um filme de Roland Emmerich. Tem muita catástrofe, tem o herói improvável, tem o presidente salvador, tem todo o patriotismo sem noção e tem um fundo político tão, mas tão vazio que é difícil de ser levado à sério.
Novo astro de Hollywood, Channing Tatum vive John Cale, um ex-militar que trabalha na segurança de um congressista (Richard Jenkins) norte-americano, mas que sonha em integrar o serviço secreto e ser um dos responsáveis por proteger o presidente dos EUA James Sawyer (Jamie Foxx). Ele passa por uma entrevista na Casa Branca e aproveita para levar a filha para conhecer o local no mesmo dia. Para azar dele, a sede do governo americano é tomada por terroristas e ele, separado da filha, acaba na situação em que deve defender o presidente ao mesmo tempo em que se preocupa com a garota.
A jovem Joey King vive a filha de Cale, uma menina apaixonada por política, mas nem um pouco complexa. A personagem é desinteressante e o público vai se envolver mais na relação entre John e o presidente do que na relação dele com sua própria filha. Emmerich, mais uma vez, investe em personagens durões (até a garota!) e vilões desequilibrados, que ficam nervosos com qualquer coisa ou são loucos mesmo. Assim, em momento algum, consegue fazer com que o espectador realmente se interessasse pelo plano dos vilões.
O longa é basicamente um Duro de Matar na Casa Branca, repetindo vários elementos do clássico da ação. Acontece, que Tatum, por mais que se esforce, não é Bruce Willis. Sem falar que o vilão está muito longe de ter a complexidade do personagem de Alan Rickman. Mas com relação à dinâmica da história, fica clara a referência, com a filha representando o que era a esposa de John McClane no primeiro Die Hard. Pensando bem, John McClane e John Cale não são nomes muito diferentes, não é mesmo?
Não existe nada em O Ataque que você não tenha visto em blockbusters hollywoodianos, com elementos se repetindo dentro do próprio cinema de Emmerich. Temos crianças chatas como em 2012, temos a bandeira como elemento importante como símbolo de patriotismo e todo aquele blá blá blá como em O Patriota, temos uma breve tentativa de posicionamento político com o mundo se unindo por causa de um acontecimento como em O Dia Depois de Amanhã. E, mais uma vez, temos o presidente que parte pra luta como em Independence Day. Felizmente, ele economizou em elementos de Godzilla e 10.000 A.C., porque aí já era sacanagem demais com o público.
White House Down (no original) conta com boas presenças de Tatum e Foxx, além de uma atuação esforçada de Maggie Gyllenhaal. Por sua vez, Jason Clarke, James Woods e Jimmi Simpson possuem papéis completamente desinteressantes.
Roland Emmerich é um cara muito bom naquilo que faz, sendo que o problema é que aquilo que faz não é algo muito bom. Ele é pós-graduado no cinemão norte-americano, sabe que o público se identifica com o herói improvável e que está afoito por cenas de ação e explosões. Mesmo com obras de mais de duas horas de duração, ele sabe que se de tempos em tempos algo explodir, as pessoas não irão dormir na sala. Tudo isso é verdade. Mas é verdade também que ele funciona no piloto automático, sem a menos intenção de tirar algo mais de sua câmera.
E não se trata da velha discussão entre cinema de entretenimento e cinema cult. O problema de seus filmes não é terem sido feitos para divertir, mas sim o fato de não conseguirem.