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    Khumba
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Khumba

    Nonsense africano

    por Bruno Carmelo

    Primeiro, um parêntese: raríssimos filmes africanos chegam aos cinemas brasileiros, portanto é uma boa notícia que o circuito comercial também encontre espaço para a pequena animação sul-africana Khumba, além das megaproduções da Disney, Pixar, Dreamworks e Fox.  No entanto, é uma pena que se trate de uma produção tão fraca, que pretende doutrinar as crianças para os valores da amizade, tolerância, autoaceitação, respeito ao próximo, paixão pela natureza etc.

    Não que as produções didáticas sejam ruins em si, mas esta condensa tantos clichês narrativos que chega a parecer uma paródia de filmes infantis. Em 80 minutos, a história consegue incluir discussões sobre o turismo nas savanas, lições de vida reveladas num último suspiro, cientistas charlatões, cultos a águias mágicas, revelações místicas durante delírios no deserto, martírios, sacrifícios e mesmo uma incômoda cena de bullying pós-parto – provavelmente a primeira do cinema. A história atira para todos os lados, combinando diversas temáticas, valores e conflitos, até se transformar em um emaranhado sem sentido.

    Sejamos claros: o roteiro de Khumba é um dos piores vistos no cinema de animação em muito tempo. A trama foi escrita e reescrita por sete pessoas, e são visíveis as oscilações de tom entre cada tratamento. Diversos conflitos essenciais não possuem explicações: se o problema principal da zebra (o fato de que metade de seu corpo não é coberto por listras) é inédito, como é possível todos olharem para o animal e evocarem a profecia de que a falta de listras impede a chuva? Se toda a África conhece o mito do lago mágico, como apenas a mãe de Khumba parece estar ciente da história entre as zebras?

    Somam-se a estas falhas dezenas de personagens que aparecem e somem da história sem motivações, apenas servindo para conversar com o protagonista em sua jornada rumo à obtenção das listras. Nem os coadjuvantes principais possuem uma personalidade própria, sendo reduzidos a estereótipos bastante grosseiros: Mama V é uma fêmea gnu cujo único conflito está ligado à perda do filho, já Bradley é uma avestruz histriônica que apenas fala em seu sonho de se tornar famoso. Eles não têm função narrativa, apenas acompanham Khumba. Além das fracas construções de personagem, a ação logo se revela machista (as fêmeas são afastadas dos conflitos principais), e todas as intenções de produzir humor são constrangedoras.

    Por incrível que pareça, estes problemas ficam pequenos quando a dublagem brasileira entra em cena. A escolha de celebridades ao invés de atores experientes para as vozes nacionais prejudica muito a qualidade dos filmes. Rodrigo Faro cumpre bem o seu papel como Khumba, e a presença de Marco Luque incomoda, mas não chega a comprometer o resultado final. Já a participação de Sabrina Sato é vergonhosa. Ela parece sequer estar tentando atuar, limitando-se a repetir seus famosos vícios de linguagem e sotaque carregado. As numerosas aparições de Mama V enfraquecem a narrativa pela total inabilidade de Sabrina como atriz. (Enquanto isso, o elenco de vozes americano contratou a talentosa Loretta Devine para a mesma personagem).

    As qualidades do filme encontram-se nos quesitos técnicos. O pequeno estúdio de animação consegue cuidar bem da imagem em 3D, além de dominar elementos que os grandes estúdios demoraram muito tempo para controlar, como o movimento de pelos e cabelos ao vento, e a reprodução da água em movimento. Cenários complexos como a caverna e a cachoeira são bem realizados. Se tamanho apuro técnico fosse aplicado a um roteiro minimamente relevante, esta poderia ser uma produção digna da atenção das famílias.

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