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    Os Penetras
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Os Penetras

    Outras formas de humor

    por Bruno Carmelo

    À primeira vista, podemos esperar o pior. O trailer apela para imagens fáceis e piadas prontas ("Vamos botar para foder!", diz um personagem), e a trilha usa o batidíssimo "Nós vamos invadir sua praia", do Ultraje a Rigor. Já os cartazes optam por um design gráfico de nível precário. No entanto, contra todas as expectativas, eis que esta comédia revela um lado bastante astucioso.

    A trama é simples: um homem sedutor e aproveitador (Marcelo Adnet) abusa da inocência de um desconhecido (Eduardo Sterblitch) para viver os prazeres que as belas mulheres e as boas festas podem proporcionar. Mas ao invés da dinâmica maniqueísta de dominadores versus dominados, temos uma estrutura mais complexa: o rapaz inocente começa a aprender as regras da enganação, e as mulheres seduzidas estão tão interessadas em tirar proveito da inocência alheia quanto os homens. Neste hino à malandragem carioca, todos são culpados, e todos são vítimas.

    Um grande elemento de destaque no projeto é a direção de Andrucha Waddington, cineasta mais acostumado aos dramas (Casa de Areia, Lope), ou às comédias "de arte" (Eu Tu Eles). Apesar de trabalhar com um elenco e uma produção televisivos, ele evita fechar as imagens no rosto dos atores, ou apelar para as personalidades caricaturais. Privilegiando as câmeras anguladas para baixo e para cima (os plongées e contra-plongées) e as imagens de conjunto, o diretor escapa à fragmentação do olhar e do espaço.

    A questão temporal também é bem escolhida: enquanto muitas comédias sofrem para trabalhar o tempo (seja o ritmo da edição, a duração da história ou o tratamento de elipses), Os Penetras cola-se aos personagens e os segue durante poucos dias. Nada de sofrer para retratar a diferença de gerações (O Diário de Tati) ou para acompanhar a ascensão e queda de um casal durante décadas (Até que a Sorte nos Separe). A impressão de tempo real contribui, sem surpresas, à naturalidade do conjunto.

    As demais funções aliam a eficiência à discrição: a fotografia opta por tons sutis e melancólicos (bela cena de Sterblitch triste, atrás do vidro de um ônibus), o som prefere os ruídos naturais aos efeitos fáceis. Até o tratamento dos corpos e dos gêneros recebe maior respeito do que de costume: ao invés dos tipos estereotipados como "o gordo" ou "a perua" (Até Que a Sorte nos Separe, novamente), temos a exibição de corpos comuns, medianos, todos potencialmente sedutores e corruptíveis. As mulheres, de todas as idades (de Mariana Ximenes a Susana Vieira), não são apenas dóceis ou fatais, elas podem evoluir e surpreender ao longo da trama (quem esperaria aquela conclusão para a personagem da modelo russa?).

    Por fim, usar Os Penetras como exemplo de uma comédia excelente seria um grande exagero. O filme é divertido, com piadas modestas. Acima de tudo, ele se recusa a contorcer os seus personagens em cenas e situações extremas para forçar o riso. Sai de cena o moralismo no final, assim como a redução do nível técnico da produção. Em um ano de 2012 repleto de comédias desastrosas, Os Penetras não ofende a inteligência do espectador, nem a linguagem cinematográfica, o que já é uma qualidade notável.

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