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    Muppets 2 - Procurados e Amados
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Muppets 2 - Procurados e Amados

    Da ironia à ternura

    por Bruno Carmelo

    A primeira cena de Muppets 2 – Procurados e Amados é genial. Os personagens estão reunidos e começam a entoar uma canção ironizando o fato de estarem produzindo uma sequência. Os versos dizem coisas do tipo: “Todo mundo sabe que as sequências nunca são tão boas quanto o original”, ou “A sequência significa que o estúdio nos considera uma franquia rentável”. Depois, sugerem que o filme serve principalmente para preencher o calendário do estúdio, enquanto a Disney não prepara produções mais importantes, como Toy Story 4. Nenhum filme infantil tinha sido tão cínico e crítico ao sistema de estúdios.

    A cena seguinte é igualmente excelente, com a fuga do sapo Constantine de uma prisão siberiana. Com imagens violentas e muito bem dirigidas (vide a luta contra os guardas, vista através de sombras), este momento consegue parodiar os grandes gêneros adultos (filmes de guerra, de suspense, policiais) e as temáticas clássicas das produções adultas americanas (a violência, o patriotismo, a Rússia vista como grande inimiga). Estes dez minutos iniciais são tão bons que despertam o medo de que o restante da produção não esteja à altura. Pois é justamente o que acontece.

    Muppets 2 – Procurados e Amados traz outros números musicais, mas desta vez desprovidos de ironia, apenas ternos e alegremente paspalhões. Estes momentos são o ponto fraco do diretor James Bobin, que se torna bastante engessado nas cenas musicais e oníricas, embora demonstre eficiência e timing cômico nos diálogos. O talento do diretor se sobressai nas cenas realistas, como o roubo de quadros em um museu ou as intrigas dentro de um trem em movimento. A narrativa deslancha bastante quando assume o seu lado de ação e paródia, e emperra quando insiste em ser dócil e turística, passando de maneira forçada por várias cidades europeias - um golpe de marketing evidente da produção.

    É uma pena que o filme não aprofunde o seu lado sarcástico, porque existe uma veia politicamente incorreta muito evidente nos roteiristas, produtores e compositores. O produtor Nicholas Stoller acaba de dirigir o divertidíssimo e vulgar Vizinhos, enquanto a Bret McKenzie e Jermaine Clement formam a hilária dupla Flight of the Concords, com diversas canções que parodiam desde o sexo até a imigração e o canibalismo. Obviamente, não se esperava que Muppets 2 trouxesse temas deste tipo à história, mas a narrativa também não era obrigada a ceder às conclusões fáceis, com mensagens explícitas sobre o valor do amor e da amizade. Mesmo filmes infantis recentes como ParaNorman e Frozen – Uma Aventura Congelante conseguiram atribuir desfechos menos pedagógicos aos seus personagens.

    Mesmo assim, o ritmo da produção é muito agradável, a montagem é eficaz e a duração é enxuta. Os adultos sempre podem se divertir com as participações especiais às pencas, muitas delas com bastante senso de auto ironia (especialmente nos casos de Danny Trejo, Christoph Waltz e Salma Hayek). Os pequenos ainda podem se deleitar com as trapalhadas analógicas dos fantoches, que diferem muito dos efeitos computadorizados das produções atuais. É uma delícia ver cenas em que as paredes se viram e tornam-se novos cenários, revelando justamente a origem teatral e artificial que constitui a base dos Muppets. Também é muito bom ver reunidos no mesmo projeto atores cômicos do nível de Tina Fey, Ricky Gervais e Ty Burrell, todos excelentes em seus papéis.

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