Vivam os franceses
por Renato HermsdorffOs horrores da Segunda Guerra Mundial sob o ponto de vista da relação pai e filho. Dito assim, Viva a França! pode até soar como A Vida é Bela, mas as semelhanças param no argumento. O filme de Christian Carion (Feliz Natal) é muito mais sóbrio, estruturado como um melodrama clássico, que não ofende o expectador, mas tampouco acrescenta novidades ao gênero – e à temática da guerra.
O realizador francês usa a clássica premissa de tomar o todo pela parte – ou vice-versa. Para abordar os horrores do conflito (o “todo”), ele pousou seu recorte naquele que, segundo o próprio longa informa, foi o maior movimento migratório da história, o êxodo de 8 mil pessoas impelidas pelo avanço nazista na Europa, em 1940.
Mas o que seriam das estatísticas sem o exemplo humano? Hans (August Diehl, de Bastardos Inglórios) é um desses refugiados, um alemão revolucionário que, ao ver sua vida ameaçada, ruma para a França com o filho, de quem acaba se perdendo depois de um incidente. Eles representam “a parte”. Para fundir os dois mundos, o roteiro se baseou em relatos reais de pessoas da época.
Para o bem e para o mal, o elemento mais gritante da obra é a trilha sonora. Talvez seja, também, o maior investimento da produção, porque quem a assina é o inquestionável Ennio Morricone. E a impressão que fica é que, por contar com uma lenda desempenhando essa função, os responsáveis não pouparam o público de ter, de forma excessiva, suas emoções conduzidas pelas composições. Um belo conjunto de sinfonias, diga-se, mas que se sobrepõe ao filme em si.
Assim, apelando para o emocional, Viva a França!, apesar de tecnicamente correto, joga, a todo momento, a favor para a plateia – sufocando qualquer possibilidade de surpresa. Por causa da História (com agá maiúsculo), desde o início está muito claro quem são os mocinhos e os vilões dessa história – o que, em última análise, resulta para lá de nacionalista.