Comédia romântica
por Bruno CarmeloEm 2012, o primeiro Anjos da Lei chegou aos cinemas surfando na nova onda de comédias adolescentes, dessas que trocam a obsessão dos garotos pelas mulheres (como era o caso de American Pie) pela paródia do “bromance”, ou seja, a amizade próxima entre homens. Para ajudar, a direção de Phil Lord e Chris Miller compreendia como ninguém essa combinação entre imaturidade e sexualidade, recheada de piadas pop e referências geek.
Como a autoparódia é um elemento importante desse tipo de humor, Anjos da Lei 2 começa fazendo uma longa sátira do próprio fato de ser uma sequência. O sempre hilário Nick Offerman faz menção ao orçamento maior das continuações, ao empreendimento puramente comercial e à experiência menos satisfatória das sequências, que costumam entregar apenas uma repetição do filme original. No entanto, o começo sarcástico não nega o fato de que o restante da história é, justamente, uma variação da história de 2012, com os mesmos policiais atrapalhados procurando por um traficante de drogas – antes, em uma escola, e agora, na universidade.
Para não dizer que não há mudanças, o segundo filme atenua o conteúdo sexual e as infinidades de piadas de pênis - neste sentido, Vizinhos seria uma sequência mais apropriada ao besteirol do primeiro Anjos da Lei. Acima de tudo, o roteiro decidiu se apropriar do formato das comédias românticas, tratando a amizade entre Jenko (Channing Tatum) e Schmidt (Jonah Hill) como um daqueles romances padronizados do cinema hollywoodiano, do tipo que passa por brigas, ciúmes, ameaças de ruptura até a inevitável reconciliação final. É bastante divertido ver os dois falando sobre adotarem uma “investigação aberta”, cada um “vendo seus próprios suspeitos” quando o relacionamento está em crise.
Mesmo assim, o roteiro deste filme foi elaborado com menos cuidado do que na trama anterior. As piadas e referências pop funcionam muito bem com a geração atual, mas o desenrolar da trama policial é fraco, com cenas inverossímeis até para o padrão pouco exigente desta comédia. Muitos personagens são subaproveitados, como o vilão Ghost (Peter Stormare) e a estudante Maya (Amber Stevens), enquanto algumas cenas de bom potencial cômico, como a terapia de casal, têm uma conclusão pouco satisfatória. As raras cenas de ação também são dirigidas de maneira preguiçosa pelos cineastas.
O que realmente garante o sucesso desta sequência é o impressionante talento cômico da dupla principal. Jonah Hill executa com perfeição este tipo de humor mais verbal do que físico, enquanto Channing Tatum conseguiu representar com sucesso a figura do garanhão pouco inteligente. Eles se completam bem, e conseguem retirar o melhor um do outro quando estão juntos. Talvez Anjos da Lei 2 tenha perdido um pouco da surpresa, mas conseguiu manter os pontos mais fortes do filme original, e ainda terminou com os créditos finais mais engraçados dos últimos anos. Vamos torcer para que este horizonte cínico e mordaz seja o caminho adotado para o inevitável terceiro filme.