Revisão histórica
por Lucas SalgadoUma História de Amor e Fúria tem tudo para se tornar um marco do cinema brasileiro. Entre os anos 50 e 2000, pouco mais de 20 longas de animação foram realizados no país, sendo a grande maioria voltada para o público infantil. O novo longa vai contra a corrente e foca sua atenção nos mais velhos, embora também possa agradar aos jovens com seus belos traços e com sequências de ação e sexo.
Não dá para dizer que Uma História de Amor e Fúria seja a primeira animação adulta lançada por aqui. Há alguns anos tivemos o lançamento de Wood & Stock - Sexo, Orégano e Rock'n'Roll. Mas o grande diferencial do primeiro é que ele não só é voltado para um público mais velho, mas também por tratar de temas sérios.
O longa oferece, além do entretenimento, a possibilidade de reflexão diante da história do Brasil. De modo geral, a história é contada pelos "vencedores". O diretor e roteirista Luiz Bolognesi, no entanto, decidiu contar um pouco do outro lado. A trama segue um homem que, com quase 600 anos, vive vários momentos marcantes da história do Brasil, quase sempre ao lado de sua grande paixão, Janaína.
Vários períodos históricos são abordados, como a colonização, a escravidão e a ditadura militar. Em todas estas épocas, o protagonista é colocado no posto de vítima de repressão e violência. O filme é muito bem sucedido nesta intenção da fazer uma releitura da história do Brasil, deixando de lados clichês e não se incomodando em atacar pessoas que de modo geral são consideradas como heróis, como é o caso de Duque de Caxias.
Selton Mello, Camila Pitanga e Rodrigo Santoro integram o excelente elenco de vozes da produção. Na verdade, eles não são meros dubladores, uma vez que os animadores desenharam o filme em cima da voz e das expressões dos atores, diferentemente do que ocorre normalmente.
Experiente em dublagem, Selton Mello é que se sai melhor na função, o que é normal tendo em vista que tem o papel mais importante. Ele empresta naturalidade e dá um tom bem realista ao personagem, passando muito bem por todas as mudanças temporais.
Além de visitar momentos importantes da nossa história, o longa toma a liberdade de imaginar como será o Rio de Janeiro no final do século XXI, destacando a presença de milícias e trazendo como problema principal a falta de água. Independente de embasamento científico ou não, o que importa é que o núcleo futurista não quebra o ritmo da produção e ainda funciona como boa ficção científica.