Um jeito estúpido de ser
por Roberto CunhaCultuado por alguns cinéfilos de carteirinha por ter realizado obras como Mephisto (1981), Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 82, e Coronel Redl (1985), ambos premiados no Festival de Cannes, o roteirista e diretor húngaro Istvan Szabo volta aos cinemas brasileiros anos depois de Adorável Julia, lançado em 2005. Com Atrás da Porta, ele traz uma complicada relação entre uma patroa e sua governanta na Budapeste dos anos 60.
Sem fazer rodeios, a primeira conversa entre a solitária Emerenc (Helen Mirren) e Magda (Martina Gedeck), uma escritora que precisa de uma funcionária para os afazeres do lar, é reveladora. Curto e grosso no sentido mais literal da expressão, esse diálogo escancara os alicerces de uma amizade que será construída com base num misterioso jogo entre duas mulheres.
Retratando a quase paranóica rotina de uma senhora semi-reclusa com um jeito muito peculiar de amar o próximo ("Não sei porque gosto de você"), o roteiro tem um estranho humor nas entrelinhas dos diálogos e sequências, algumas delas bizarras. E insere ainda um questionamento religioso, um flerte com a fantasia e uma personagem com uma fria lógica sobre a morte: "O máximo que se pode fazer por alguém é evitar que sofra". Mas fica a impressão que ele não se aprofunda em nada, revelando muito, mas convencendo pouco.
A história tem começo, meio e fim, mas carece de uma viscosidade maior para manter você grudado na trama. Entre os destaques, os acordes de Robert Schumann (1810-1856) escorando as atuações da dupla, a sempre boa Mirren (com zero de maquiagem) e Gedeck, do ótimo A Vida dos Outros. Baseado no romance da premiada e popular escritora Magda Szabo (mesmo nome e profissão da antagonista), não dá para dizer que é um drama comum, de fácil assimilação. Atrás da Porta bate de frente com um ponto crucial para qualquer obra: o ritmo. Mas se o andamento de um filme não é algo que preocupa você, entre sem bater, e aproveite!