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    O Último Elvis
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    O Último Elvis

    Entre o fascínio e a realidade

    por Francisco Russo

    Atire a primeira pedra quem nunca fez algo inusitado por um ídolo, seja ele quem for e de que área for. Carlos Gutierrez, o personagem principal de O Último Elvis, é um destes fãs obcecados, completamente fascinados por seu ídolo – no caso, Elvis Presley. Dono de uma voz muito parecida com a do cantor que arrastou multidões entre as décadas de 1950 e 1970, ele tenta levar a vida como seu imitador profissional. Tenta, pois o mercado de sósias não é fácil. Apesar de trabalhar para uma empresa especializada no ramo, ele precisa conciliar os shows com um trabalho normal, onde garante o pão de cada dia. Vida de artista não é fácil, mesmo para aqueles que imitam os já consagrados.

    O Último Elvis é, ao mesmo tempo, um filme de devoção ao astro americano e também um drama sobre os limites de ser fã. Sim, pois existem aqueles que compram badulaques do ídolo e ficam na porta dos shows gritando por um autógrafo ou uma foto, e há também os que vão mais longe. Carlos faz parte deste segundo grupo, já que busca moldar sua vida a tudo que Elvis fez, no palco e fora dele. É esta obsessão que, aos poucos, afeta seu estado mental, mesmo que para o próprio esteja em perfeitas condições e apenas prestando mais um ato de devoção ao seu ídolo maior.

    Muito da qualidade do longa-metragem vem das escolhas feitas pelo diretor Armando Bo. Por mais que o ambiente em que Carlos circula, cercado por sósias de personalidades do porte de Britney Spears, John Lennon e Freddie Mercury, seja um tanto quanto ridículo, em momento algum o filme segue o caminho do riso fácil. Pelo contrário, todos estes sósias são levados a sério, como pessoas que se dedicam ao trabalho como qualquer outra. A opção pelo drama cria um contraste sempre interessante em relação ao fascínio do personagem principal, manifestado em detalhes como o nome de sua filha – Lisa Marie, assim como a filha de Elvis – e seu próprio nome, já que prefere ser chamado como o ídolo. Outro acerto do diretor foi valorizar as cenas em que o personagem principal está no palco, sempre impressionantes. Neste ponto, méritos também para o protagonista John McInerny, que consegue transmitir muito

    bem a entrega de Carlos ao interpretar as canções de Elvis.

    De final inquietante, devido à paz e certeza transmitida pelo personagem principal, O Último Elvis é um filme denso que captura a atenção do espectador ao longo de toda sua duração. Trata-se de mais um bom exemplar da qualidade do cinema argentino, que tanto aposta na valorização de dramas sociais, e até existenciais, em detrimento da realização de grandes produções. Bom filme.

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