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    Indomável Sonhadora
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Indomável Sonhadora

    É preciso ser forte

    por Francisco Russo

    Não é muito comum o cinema americano ressaltar a pobreza existente no país, o que por vezes dá uma falsa ideia de que não há miseráveis nos Estados Unidos. É claro que a proporção deles em relação à população é muito menor que a existente no Brasil, por exemplo, mas filmes como Medo e Obsessão, de Wim Wenders, e este Indomável Sonhadora – péssimo título nacional! – mostram que eles existem. Entretanto, mais do que exibir a face feia da sociedade americana, o longa-metragem traz uma forte história de amor e devoção entre pai e filha, influenciada pelas dificuldades trazidas pela vida que levam.

    A trama é narrada a partir do olhar da pequena Hushpuppy, uma garota de apenas seis anos que, órfã de mãe, vive com o pai Wink. Criada sob a regra de que o importante é ser forte para sobreviver à dureza da vida, ela mescla a ingenuidade natural da idade com a surpresa inevitável diante das explosões do pai. Afinal de contas, ele não a poupa de esporros estrondosos e até mesmo de por vezes assustá-la, sempre no intuito de mostrar que a vida é assim e é preciso aprender logo para enfrentá-la. Sem entender direito a proposta do pai, Hushpuppy absorve os ensinamentos e, sem perceber, se torna cada vez mais endurecida. O que não a impede de ter momentos de pura ternura ou divagar pela imaginação, como qualquer outra criança.

    Entretanto, mesmo a imaginação de Hushpuppy tem muito a ver com seu dia a dia. Acostumada a comer como se fosse um bicho, para não ter nojo de qualquer animal que possa ser capturado, ela imagina grandes animais pré-históricos, por vezes associando-os a momentos de sua vida. Neste ponto, o filme lembra um pouco o sombrio Onde Vivem os Monstros, no sentido de se prender a um mundo irreal para amenizar um pouco a dureza da realidade e, de certa forma, compreendê-lo. Este mundo fantasioso surge também em alguns breves relatos, como as lembranças do nascimento da garota, que contam com elementos fantásticos típicos da literatura de Gabriel García Márquez: sem explicações nem respostas, eles simplesmente acontecem e são aceitos por todos os demais como algo absolutamente natural.

    Em meio à miséria e a fantasia, Indomável Sonhadora tem como alicerce principal as ótimas atuações do elenco como um todo, especialmente a protagonista Quvenzhané Wallis e Dwight Henry, intérprete de seu pai. Por mais que enfrentem problemas e a própria educação de Hushpuppy seja questionável, mesmo considerando a realidade de ambos, o elo existente entre os dois resulta em cenas comoventes, especialmente na reta final do longa-metragem. São eles e o roteiro, aliado à boa direção de Benh Zeitlin, que dão força a esta história, pelos sentimentos e também pela realidade retratada, mesclada entre a miséria absoluta e um lado fantasioso com os pés no chão. Muito bom.

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    Comentários

    • Lucrécia Martins De Melo Mende
      Achei a câmera muito nervosa...não gosto de filmagens assim...
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