Boa (possível) despedida
por Lucas SalgadoAinda não é oficial que Terapia de Risco seja o último longa de Steven Soderbergh feito para os cinemas (ele também realizou o inédito Behind the Candelabra, mas para a TV). Mas se este for o caso, o cineasta terá se aposentado com um ótimo trabalho, que reúne vários elementos marcantes de sua filmografia. Conta com um grande elenco com nomes famosos (Rooney Mara, Channing Tatum, Jude Law e Catherine Zeta-Jones) e com uma fotografia bem característica, mas outro ponto em comum com os outros filmes do diretor está no fato de não ter muito em comum com outros filmes do diretor.
Por mais que nem sempre acerte, Soderbergh é um verdadeiro camaleão do cinema, caminhando por diversos gêneros e também por diferentes tamanhos de produção. É capaz de fazer um grande longa hollywoodiano e ainda um discreto indie.
Após investir no cinema catástrofe em Contágio, na ação em A Toda Prova e no humor/drama sexy Magic Mike, o cineasta realiza um thriller intenso, com doses de romance, cinema investigativo e até filmes de tribunal. Terapia de Risco conta a história de Emily Taylor (Mara), uma jovem que passou os últimos anos lutando por sua família enquanto o marido Martin (Tatum) estava preso por um crime de colarinho branco.
Após a saída dele da prisão, o casal tenta reconstruir sua história, mas ela acaba atingida por uma crise de depressão e tenta suicídio. Emily acaba no hospital e começa a se consultar com o psiquiatra Jonathan Banks (Law). Por mais que consulte a médica que cuidou de Emily no passado (Zeta-Jones), Banks tem dificuldades em tratar dela, decidindo então lhe passar um novo medicamento, que trará consequências inesperadas para todos os envolvidos.
O longa prende a atenção do espectador por seus 106 minutos de duração e tem como mérito principal o fato de não oferecer vilões ou heróis. Nenhum dos personagens assume o papel de vítima por tempo o suficiente para o público sentir pena dele, o que não interfere no envolvimento do espectador, que ao passo que vai recebendo informação é compelido a finalizar este quebra-cabeças.
Após se destacar em A Rede Social e, principalmente, Millennium - Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, Mara surge mais uma vez bem em cena. Ela oferece uma delicadeza e um encanto à personagem, ao mesmo tempo que surge como uma figura enigmática e misteriosa em outros momentos. Em uma participação menor, Tatum surge bem confortável no filme, enquanto que Jude Law mostra toda aquela inquietude que o marca como grande ator. Zeta-Jones é quem tem menos espaço em cena, mas ainda assim se sai bem quando exigida.
Escrito por Scott Z. Burns, o roteiro da produção investe em reviravoltas, mas não perde tempo tentando criar grandes surpresas. O que interessa aqui é o desenvolvimento dos personagens e a evolução daquela história. Soderbergh, mais uma vez usando o pseudônimo Peter Andrews, também é o responsável pela direção de fotografia. Na verdade, mesmo que ele usasse um outro nome todos saberia que se trata do diretor, afinal usa elementos explorados em sua filmografia, principalmente no que diz respeito ao uso de cores sóbrias.
Side Effects (no original) é uma obra envolvente e sexy. O diretor já havia discutido a indústria farmacêutica em Contágio, mas agora é mais analítico, mostrando os bastidores deste "mundo da depressão", com médicos ganhando dinheiro para realizarem testes e venderem medicamentos.