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    Boca
    Críticas AdoroCinema
    1,5
    Ruim
    Boca

    Levando no grito

    por Lucas Salgado

    Sujeito de classe média começa a procurar formas de ganhar dinheiro fácil e acaba entrando no mundo do tráfico de drogas e da prostituição. Com o tempo, se torna um dos líderes do crime em São Paulo. Como podem ver, a história por trás de Boca é bem interessante. Só é uma pena que não se pode dizer o mesmo da execução do filme.

    Inspirado em autobiografia de Hiroito Joanides, o longa peca ao não oferecer ao espectador um personagem que lhe cative. Na verdade, bastava que o sujeito despertasse algum tipo de emoção em quem assiste ao filme, mas não é isso o que acontece. E boa parte da "culpa" disso é da atuação de Daniel de Oliveira. Conhecido pelo papel de Cazuza, o ator oferece uma performance em dois tons: gritando ou gritando muito. É lamentável como a produção confunde força do personagem com um amontoado de caras, bocas e berros.

    O ótimo Milhem Cortaz está totalmente desperdiçado na pele de Oscar, amigo de infância de Hiroito que trabalha com ele no crime, enquanto que Hermila Guedes e Leandra Leal não comprometem como Alaíde e Silvia. A primeira vive a esposa de Hiroito, numa relação que nasce do nada e permanece desinteressante durante todo o processo. Paulo Cesar Pereio completa o elenco na pele do delegado corrupto Honório. O veterano ator está totalmente no piloto automático.

    O roteiro falha constantemente na construção das situações. A entrada do protagonista no mundo do crime acontece sem maiores explicações. Seu casamento também é imediato. E o mesmo vale para brigas, alegrias e tudo mais. Pode-se dizer que isso tem relação com o fato do personagem viver a vida no limite, mas isso não deveria impedir um melhor desenvolvimento da narrativa.

    Anteriormente chamado Boca do Lixo, o filme foi escrito, dirigido e produzido por Flavio Frederico, que falha na abordagem temporal e temática, e ainda perde tempo tentando (e falhando) criar uma experiência sensorial no momento em que retrato o consumo de heroína.

    Premiada no Festival do Rio 2011, a fotografia de Adrian Tejido é das poucas coisas que se salvam, optando por uma câmera muitas vezes em movimento e realizando até mesmo algumas tomadas mais longas. Em determinado momento, em que a câmera passeia pelos corredores de uma casa de prostituição, vemos todo o cuidado e delicadeza com que Tejido trata a imagem. Pena que nem todos da equipe técnica primaram pelo mesmo padrão de qualidade.

    Boca segue o caminho de obras como 400 Contra 1 - Uma História do Crime Organizado e Assalto ao Banco Central, tentando resgatar personagens ou situações históricas no mundo do crime no Brasil. Infelizmente, como aconteceu também com os filmes citados, fracassou, não servindo como informação ou entretenimento.

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