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    O Jogo Da Imitação
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    O Jogo Da Imitação

    "Bonita a fotografia"

    por Renato Hermsdorff

    Assim como A Teoria de Tudo, O Jogo da Imitação é a cinebiografia de um gênio cientista britânico que não teve uma vida fácil (no caso, o matemático Alan Turing). Da mesma forma, o(s) filme(s) traz(em) elementos que costumam agradar as academias responsáveis pelas premiações. A ver: trata-se de uma história real (Capote, Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento); o retratado é do tipo “problemático” (o fator “não teve uma vida difícil”, sabe?, como Uma Lição de Amor); deixar correr, em paralelo, as histórias profissional e amorosa do personagem central (Pollock, Forrest Gump - O Contador de Histórias). Para somar, há ainda, aqui, a Segunda Guerra Mundial como pando de fundo.

    O problema é que seguir uma determinada cartilha, muitas vezes, resulta em uma produção burocrática (Uma Mente Brilhante, O Discurso do Rei), erro no qual O Jogo da Imitação incorre – ao contrário de A Teoria de Tudo.

    Sim, Benedict Cumberbatch (Sherlock) tem uma das melhores performances de sua (elogiada) carreira, com um personagem misantropo e metódico; sim, Keira Knightley (Desejo e Reparação) também consegue um registro acima da média em sua (controversa) carreira – basicamente por não se deixar levar pelo histrionismo de papéis como o de Um Método Perigoso.

    Mas, em geral, O Jogo da Imitação soa demasiado calculado (com o perdão do trocadilho) e o resultado é plástico. A história é boa. Turing, um gênio da matemática, conseguiu encurtar a Segunda Guerra Mundial, estima-se, em cerca de dois anos – poupando 14 milhões de vida – por ter inventado uma máquina (o bisavô do computador) capaz de decodificar as mensagens trocadas pelos alemães.

    No entanto, ele não era nada hábil em decodificar os subtextos de um simples diálogo – o que rende uma cena hilária logo no início do filme, em que o personagem principal interpreta literalmente as falas do comandante Denniston (o eterno vilão Charles Dance, de Game of Thrones e Drácula - A História Nunca Contada). Mesmo assim, foi perseguido – e preso – simplesmente pelo fato de ser homossexual.

    Tomando como exemplo a cena da conversa acima, que praticamente abre o filme de Morten Tyldum (do pouco conhecido HeadHunters), as frases de efeito e tiradas espertinhas (por parte do protagonista, claro), se, num primeiro momento, servem para chamar a atenção do espectador (função que se cumpre), com a repetição, comprometem a credibilidade da trama.

    O mesmo tom fantasioso (afinal, estamos falando de Hollywood) serve de base para a construção da Joan Clarke, de Knightley. Numa época em que as mulheres eram discriminadas, seu personagem cumpre a função de mostrar, a todo o tempo, o absurdo do quão discriminadas eram as mulheres nos anos 1940. A “defesa” exagerada que se faz da personagem, portanto, configura uma tentativa apelativa de ganhar a audiência.

    Sim, a direção é firme – não que chame a atenção por algum elemento em particular – e, tecnicamente, o filme tem um visual de respeito (o que se espera de uma produção do nível), com uma convincente recriação do universo da época.

    Portanto, não é que O Jogo da Imitação “ofenda” mas, no fim, fica aquela sensação de “bonita a fotografia”, quando se quer defender um filme, mas que não passa de mais do mesmo.

    Filme visto no 39º Festival Internacional de Cinema de Toronto, em setembro de 2014.

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