Entre a lei e a vingança
por Francisco RussoA sequência de abertura de Tudo por Justiça é impactante. Um casal em um drive in, assistindo a um filme na tela gigante. Ao invés dos amassos tradicionais em momentos como este, há um clima ameaçador e estranho no ar. Não demora muito para que tudo descambe em violência. A câmera acompanha tudo, ressaltando que há movimento na telona e também fora dela, entre os espectadores. O enquadramento preciso, o clima sombrio e a bela atuação de Woody Harrelson apontam: vem coisa boa por aí!
Infelizmente, o filme não consegue manter o pique, mas ainda assim prende bastante a atenção. A história acompanha Russell (Christian Bale), um homem de classe média baixa que seguiu a “tradição da família” e trabalha em uma fornalha. Na verdade não há muito emprego na cidade onde ele vive, breve retrato da crise econômica vivida pelos Estados Unidos nos últimos anos. Após um acidente automobilístico, Russell é preso e, tempos depois, retoma a liberdade. O retorno para casa fica marcado pelo incômodo do irmão caçula Rodney (Casey Affleck), que deseja mais da vida. Para tanto ele se envolve com lutas clandestinas, onde pode ganhar um bom dinheiro mas também sair bem machucado.
Um dos méritos do diretor Scott Cooper é justamente criar este ambiente duro com uma boa dose de veracidade. Questionamentos sobre a vida diária e o próprio país surgem aqui e ali, especialmente em relação à situação daqueles que lutaram na Guerra do Iraque ao retornar aos Estados Unidos. Entretanto, com o desenrolar da história, nota-se que o interesse do diretor não é propriamente retratar este universo, mas sim fazer uma analogia entre a justiça de fato e a dos tribunais. Esta comparação fica bastante nítida na cena final do longa-metragem, especialmente ao ser comparada com o momento em que Russell foi preso anteriormente.
Com esta proposta em mente, o diretor (e roteirista) conduz os personagens de forma que se possa, dentro da trama apresentada, criar tal comparação. Se por um lado o filme cresce no lado ideológico, por mais que não carregue consigo defesas apaixonadas de parte a parte, por outro derrapa em certas coincidências de roteiro, situações que facilitam o desenrolar da própria história. E isto, por sua vez, enfraquece bastante o filme como um todo e o torna menor do que poderia ser.
Ainda assim, Tudo por Justiça é um filme bem interessante. Seja pelas boas atuações de Bale, Affleck e Harrelson – o melhor do elenco -, seja pela proposta contida em sua narrativa ou até mesmo pela sequência final, quase uma tortura psicológica para que a situação seja enfim definida. Um bom filme, violento em certos momentos, que deixa espaço para a reflexão após a sessão.