Ecologia e animação
por Francisco RussoDesde que Toy Story foi lançado, em 1995, a animação computadorizada tem se desenvolvido numa velocidade impressionante, especialmente através de estúdios como a Pixar e a DreamWorks. A Blue Sky pegou carona nesta nova onda com o sucesso A Era do Gelo, mas quase sempre enfrentou dificuldades com seus outros longa-metragens – a exceção foi o belíssimo Rio. Em Reino Escondido, seu novo trabalho, a produtora aposta num tema bem conhecido do público em geral: a ecologia. Só que se por vezes peca nas mensagens politicamente corretas, por outro lado o filme oferece ao espectador um visual lindo, fruto de uma animação apurada que tem por objetivo reproduzir a realidade.
A história gira em torno de seres microscópicos, invisíveis ao olho humano, que habitam uma floresta. Entre eles há os homens-folha, que defendem o local, e os bogans, que querem ver tudo destruído. Este confronto básico, que reflete o eterno dilema entre preservar e destruir o ecossistema, é a base de todo o longa-metragem e também um dos motivos da simplicidade do roteiro, já que nenhum dos lados é muito aprofundado. Perguntas como o porquê dos bogans destruírem tudo o que veem ficam no ar, sem qualquer explicação, o que torna o filme raso ao tratar do tema ecológico. O mesmo acontece no decorrer da história apresentada, com situações mal explicadas que acabam trazendo um certo descrédito ao filme como um todo.
Por outro lado, Reino Escondido tem como grande trunfo a excelência da animação. A recriação é tão perfeita que, logo no início, chega a despertar dúvidas sobre se o exibido na tela é animação ou alguma floresta verdadeira. A beleza não vem propriamente da simples presença da vegetação, mas da luminosidade refletida nela. Trata-se de um trabalho de exímio cuidado por parte dos desenhistas da Blue Sky, não apenas pela tonalidade apresentada mas especialmente pela pesquisa indispensável para encontrá-la. Pode-se dizer que Reino Escondido é um filme quando está de dia e outro, pior, quando a história chega à fase noturna.
A excelência visual do filme chama a atenção também por outros dois elementos: o bom uso do 3D, explorando mais a sensação de profundidade do que o truque de jogar coisas no rosto do espectador, e a proporção entre os homens-folha e os seres humanos, verdadeiros gigantes perto deles. Sim, pois além dos seres diminutos há também o professor Bomba e Maria Catarina, gente como este que escreve e você que está lendo, que acabam lidando com eles. São poucas as cenas em que homens-folha e humanos aparecem juntos, mas elas sempre se destacam devido ao apuro técnico com que foram tratadas.
Como um todo, Reino Escondido é um filme que se destaca pela qualidade da animação, mas que peca devido ao roteiro falho e raso. Se por um lado o filme foge do padrão Disney de perfeição ao mostrar um cachorro que perdeu uma das pernas, por outro a Blue Sky reprisa a casa do Mickey ao inserir uma cena musical sem nexo no meio do filme, no melhor estilo das piores animações produzidas pela Disney por volta da virada do milênio. Apesar dos problemas, é um filme que deve agradar ao público infantil devido à beleza visual e a personagens como a lesma e o caracol, cuja grande função na trama é fazer piadas ingênuas – tire-os do filme e a história principal em nada muda! Para os adultos, vale apreciar as belas cenas exibidas enquanto há luz dentro da história. Razoável.