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    O Duplo
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    O Duplo

    Um pesadelo cômico

    por Bruno Carmelo

    O início de O Duplo é dos mais empolgantes. Os cenários são artificiais, como se estivessem construídos sobre um palco de teatro; a iluminação contrastada mergulha os personagens numa escuridão de fundo infinito; a trilha sonora mistura violinos tensos a barulhos de máquinas, elevadores, portas. O ambiente remete a um grande pesadelo, como nas histórias de Franz Kafka, embora o texto original seja de autoria do escritor russo Fiodor Dostoievski.

    A trama se divide em três atos precisos: o primeiro gira em torno de Simon James (Jesse Eisenberg) e sua vida desinteressante. Ele não tem amigos, mantém pouca relação com os familiares, e não recebe reconhecimento profissional na grande empresa onde trabalha. O roteiro trabalha esse estranhamento com um humor afiado: Simon progressivamente tem seu cartão da empresa cancelado, e as chaves do apartamento confiscadas. O personagem começa a desaparecer como indivíduo.

    A segunda parte traz a entrada de James Simon, personagem idêntico a Simon James, e também interpretado por Eisenberg. Como em muitos filmes sobre duplos (O Homem Duplicado, Cisne Negro), a ideia é mostrá-los como reflexos espelhados, semelhantes em termos de imagem, mas contrários no que diz respeito à personalidade. O segundo homem, neste caso, é extrovertido, conquistador, popular. É interessante que o roteiro faça com que ninguém perceba a semelhança entre ambos os personagens, pela “transparência” e banalidade de Simon. Como todo enfrentamento entre duplos, a estratégia é fazê-los entrar em colisão, até a inevitável tentativa de aniquilar uma das partes.

    O diretor Richard Ayoade mantém firme controle deste universo sombrio e esteticamente coeso. No entanto, é justamente quando a narrativa precisa de explicações mais precisas que o filme se perde: as grandes reviravoltas (confronto entre James e Simon, desfecho para o romance com a personagem de Mia Wasikowska) são apressadas, com a montagem acelerando os cortes, as cores se multiplicando, os violinos da trilha aumentando a tensão e o filme correndo como se fosse obrigado contratualmente a terminar antes de 90 minutos de projeção.

    Por isso mesmo, o terceiro ato parece insuficiente, mais preocupado com o ritmo do que com a narrativa. Jesse Eisenberg não consegue distinguir tão bem os duplos, enquanto a edição omite o ponto de vista e contribui para a confusão do desfecho. O humor permanece teatral, absurdo, e agradável do início ao fim, mas a reflexão identitária por trás do mecanismo da duplicidade se perde na intensificação de uma estética já ostensiva. Mesmo com a perda de fôlego ao longo da narrativa, O Duplo comprova a ousadia do jovem diretor, produzindo uma comicidade moderna e fundamentalmente cinematográfica a partir de fontes clássicas.

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    Comentários

    • Ana Clara Nana
      Por que?
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