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    Amor Bandido
    Críticas AdoroCinema
    4,0
    Muito bom
    Amor Bandido

    Em nome do amor

    por Francisco Russo

    O diretor Jeff Nichols despontou no mundo do cinema ao lançar o sombrio O Abrigo, em 2011. Presente na Semana da Crítica, um dos eventos paralelos ao Festival de Cannes, o longa-metragem ofuscou vários dos candidatos à Palma de Ouro graças à construção de uma história claustrofóbica com uma pitada de loucura e paranoia, baseada na saga de um homem que tem constantes pesadelos com uma tempestade apocalíptica que está por vir. Apenas um ano depois, Nichols voltou a Cannes com seu novo trabalho, Amor Bandido, que pode ser descrito como a antítese de seu filme anterior.

    A primeira diferença nítida é que Amor Bandido é um filme solar. Situado em uma cidade sulista bem pequena, daquelas em que qualquer cara nova logo é notada pelos moradores locais, a trama acompanha os garotos Ellis (Tye Sheridan, muito bem) e Neckbone (Jacob Lofland), os verdadeiros protagonistas do filme. Um dia eles pegam o barco e navegam rio adentro, rumo a uma ilha próxima. Lá encontram Mud (Matthew McConaughey), um estranho que dorme em um barco preso nos galhos de uma árvore (!!!) e está se escondendo de alguém. Por mais que tenham dúvidas sobre ele, os garotos resolvem ajudá-lo. Tem início então a grande aventura de suas vidas.

    A bem da verdade, Amor Bandido remete bastante aos filmes produzidos nos anos 1980 que eram estrelados por garotos, tipo Os Goonies. Nem tanto pela aventura em si, já que o filme tem até poucas cenas de ação, mas pela construção de um universo onde o olhar juvenil é predominante, mesmo que haja a presença de adultos à sua volta. É desta forma que a visão de Ellis, com sua ideologia íntegra, aos poucos molda a trama como um todo, tanto no sentido de ajudar um desconhecido – afinal de contas, ele está com fome! – quanto nos esforços feitos para que os planos de Mud dêem certo. É neste ponto que vem a grande sacada do roteiro: a visão sobre o amor.

    Por acreditar piamente no sentimento, Ellis aceita de imediato ajudar Mud a reencontrar o grande amor de sua vida, Juniper (Reese Witherspoon), que está em apuros por ter se metido com o homem errado. Só que, no decorrer da história, o próprio garoto tem seu primeiro contato com o amor e logo percebe que há bem mais complicações envolvendo o coração do que ele imaginava. Este processo de amadurecimento conduz boa parte da história, calcado na frase “não se pode confiar no amor” mas também sem jamais deixar de acreditar nele. Assim é Ellis, um garoto apaixonado pela ideia de estar apaixonado.

    É importante notar que o filme em vários momentos levanta questionamentos sobre Mud e as histórias que ele conta e, ainda assim, tanto os garotos quanto o próprio espectador permanecem torcendo por ele. Isto acontece muito graças ao carisma de Matthew McConaughey, bastante à vontade no papel, e ao próprio roteiro calcado no idealismo de Ellis. Além disto, Jeff Nichols conta a história com uma certa calma, privilegiando os diálogos em detrimento de possíveis cenas de ação – o que fatalmente aconteceria caso este filme fosse produzido por um grande estúdio. Boa parte do encantamento provocado pelo filme vem justamente desta opção.

    Com um nítido carinho por seus personagens, sejam eles crianças ou adultos, Amor Bandido é um filme que cativa pelo ideal romântico que carrega consigo, mesmo que este não seja tão aprofundado devido à inexperiência de seu protagonista, e também por apostar em um estilo de filme há muito abandonado por Hollywood. Ao rodar um filme radicalmente diferente de seu trabalho anterior, e com a mesma competência, Jeff Nichols demonstra que é um diretor a se observar de perto no futuro.

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