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    Vizinhos
    Críticas AdoroCinema
    3,5
    Bom
    Vizinhos

    Guerra dos machos

    por Bruno Carmelo

    O conflito principal de Vizinhos é claramente apresentado nos trailers e na sinopse. Dois vizinhos estão em guerra: um deles é um jovem pai de família, em busca de tranquilidade, e o outro é um universitário popular, em busca de festas e mulheres. Além de confrontar esses dois estilos de vida, esta comédia vai além, e brinca com duas visões da masculinidade, seja o ideal de vida do jovem solteiro (desejado pelas mulheres, venerado por outros homens, livre e impulsivo), seja o ideal de vida do adulto casado (com esposa bela, vida sexual frenética, ainda belo e garanhão). No caso, os dois homens falham completamente em atingir esse ideal.

    O humor hilário e politicamente incorreto do filme surge da quebra desta idealização. Os filmes produzidos por Judd Apatow (O Virgem de 40 Anos, Tá Rindo do Quê?) e os filmes produzidos por Seth Rogen (É o Fim, Segurando as Pontas) geralmente brincam com a representação dos gêneros, mostrando grande afeto pelos homens que não conquistaram o sonho americano, assim como as mulheres que não correspondem às modelos de capa de revista. Estes filmes parodiam a noção social de sucesso, apenas para desconstruí-la de maneira anárquica e impiedosa.

    Atenção, possíveis spoilers abaixo!

    No caso de Vizinhos, os homens são basicamente definidos por sua relação com o corpo (e a genitália em particular). Zac Efron interpreta o garoto popular, cujo modelo do pênis em gesso é disputado pelas garotas da universidade. Um colega de residência (Dave Franco) tem o dom de olhar para um ponto distante, e obter uma indiscreta ereção a qualquer momento, diante dos aplausos dos colegas homens. Christopher Mintz-Plasse interpreta um rapaz pouco inteligente, mas respeitado pelo pênis imenso. Já a principal mulher em cena desconstrói o maior fetiche americano: quando Rose Byrne mostra os seios, eles estão inchados, com as veias à mostra, parecendo um “tornozelo de avó”, como diz Seth Rogen.

    Pênis, vaginas, seios e bundas nunca foram tão pouco eróticos quanto nesta produção. Este é o avesso de American Pie, Porky’s e outras comédias adolescentes que apenas reforçavam o estereótipo do macho alfa e da mulher submissa. Aqui, as garotas fazem sexo quando querem, com quem bem entendem, sem serem julgadas negativamente por isso. Os garotos têm pouco sucesso em suas conquistas, e envolvem-se em uma porção de momentos homoeróticos, como quando pegam nos pênis uns dos outros durante uma briga, ou comparam o tamanho dos seus membros. Essa visão assumidamente imatura do sexo é divertida por confrontar o espectador: afinal, quem quer se identificar com o garanhão que não seduz nenhuma garota, ou com o jovem casado que não faz sexo nunca?

    Ao mesmo tempo, esses personagens parecem homens comuns, com problemas realistas, banais. O roteiro é recheado de referências pop, que vão desde Batman a Game of Thrones, contribuindo a situar os personagens em um período bastante atual. O novo homem retratado pelo filme é o geek, o nerd, o “loser” (perdedor). Vizinhos é essencialmente uma comédia subversiva, que consegue inserir personagens interessantes em meio a piadas grotescas sobre concurso de urinar à distância e air bags explodindo dentro de casa. Rogen e o diretor Nicholas Stoller possuem grande carinho por esses homens frágeis, colocando-os como heróis às avessas do novo modelo americano.

    Apesar do conteúdo alegremente desbocado, o mecanismo da guerra entre vizinhos nem sempre funciona bem. A sucessão de tréguas e ataques, amizades e inimizades é tão veloz que às vezes as motivações de seus personagens não são claras ou verossímeis. O roteiro tenta incluir tantas reviravoltas que acaba se tornando cansativo para os seus 97 minutos. Stoller certamente demonstra ritmo cômico, mas fica a impressão de que algumas cenas (a festa da maconha, a tentativa de sair para a discoteca com o bebê) poderiam ser melhor filmadas e aproveitadas na trama.

    Resta uma boa diversão, inteligente por trás de seu humor físico e voluntariamente patético. Rogen está engraçado como sempre, embora não faça grande esforço para se diferenciar de seus personagens anteriores. Franco continua se mostrando um ótimo ator cômico. Acima de tudo, é surpreendente ver o bom moço Zac Efron no papel do musculoso abestalhado, enquanto a elegante Rose Byrne encarna a esposa descolada e boca-suja. Para a alegria do público, Vizinhos sabe bem como desconstruir os seus símbolos, que vão desde a história à escolha do elenco.

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