Terror em família
por Lucas SalgadoMesmo tendo feito filmes sombrios como Cronos e A Espinha do Diabo, Guillermo del Toro ficou conhecido mesmo por Hellboy. Entre os dois longas com o herói dos quadrinhos, lançou o extraordinário O Labirinto do Fauno, que mesclava com precisão os elementos de sua filmografia. Era horripilante e tenso ao mesmo tempo que era fantasioso.
De lá pra cá, del Toro trabalhou no roteiro de O Hobbit: Uma Jornada Inesperada e na direção de Círculo de Fogo, deixando um pouco de lado o universo do horror em seus próprios projetos. Mas isso não significa que ignorou totalmente o gênero. Ele vem se revelando um excelente produtor de filmes de terror ou suspense. Após produzir o ótimo O Orfanato, ele fez o mesmo com Mama.
O filme conta a história de duas garotinhas, Lilly e Victoria, que são deixadas pelo pai em uma cabana abandonada no meio do mato. Anos mais tarde, são encontradas e levadas para viver com o tio, que conta com o apoio de um psiquiatra muito interessado nos efeitos que o tempo causou na cabeça das jovens.
Acontece que elas não ficaram sozinhas durante todo o período, sendo "criadas" por uma força sobrenatural que acaba recebendo o sugestivo nome de Mama. Ao ver seus garotas levadas embora pelo tio, Mama não vai deixar barato.
Dirigido por Andres Muschietti, o longa traz Nikolaj Coster-Waldau na pele de Lucas, o tal tio. Dedicado, ele tenta devolver às sobrinhas um tipo de vida normal. Ele conta com a companhia da bela namorada Annabel. Vivida pela ótima e onipresente Jessica Chastain, Annabel cai de paraquedas na vida das garotas, mas acaba assumindo a responsabilidade de um tipo de mãe substituta.
A atriz de A Hora Mais Escura vem se mostrando cada vez melhor na tela grande. Ela tem um domínio preciso da cena e tem o mérito de escolher muito bem seus projetos. Em Mama, ela vive uma sexy roqueira com cabelos curtos e escuro, e convence tanto quanto em A Árvore da Vida, quando surge de forma quase que angelical, com longos cabelos ruivos.
A pequeninas Megan Charpentier e Isabelle Nelisse são outros destaques do elenco. Ao mesmo tempo que assustam (e muito!) com o comportamento, digamos, antissocial adquirido na cabana, elas também possuem certa graciosidade, que encanta não só Annabel, mas também o público.
O longa conta com uma bela fotografia de Antonio Riestra, que compra a ideia do diretor e constrói um ambiente sombrio e com tons bem escuros. A trilha sonora de Fernando Velázquez é outro destaque, não usando a música para dar sustos, mas sim para construir um clima de terror e fantasia.
Escrito à seis mãos (Neil Cross, Andy Muschietti e Barbara Muschietti), o roteiro tem algumas falhas em seu andamentos, mas também possui muitos méritos, principalmente na forma sóbria com que trata a "personagem" Mama. Outro mérito do texto é investir em personagens que não são os tradicionais "idiotas" de filmes de terror.