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    Rush - No Limite da Emoção
    Críticas AdoroCinema
    4,5
    Ótimo
    Rush - No Limite da Emoção

    A vida na pista

    por Francisco Russo

    O esporte volta e meia serve ao cinema com uma de suas inúmeras histórias de vida. Curiosamente, vem do automobilismo - que para muitos nem esporte é - uma das histórias mais insólitas, e ao mesmo tempo fascinantes, vindas da obsessão por um objetivo e o que se está disposto a fazer para atingi-lo. Mais do que uma mera disputa sobre quem levará para casa o título mundial, Rush - No Limite da Emoção busca entender as motivações por trás de uma das rivalidades mais intensas na história da Fórmula 1. É justamente este algo a mais que o transforma de um mero filme sobre carros de corrida em algo maior: um filme sobre a própria motivação humana.

    Niki Lauda e James Hunt tinham personalidades muito distintas, mas possuíam algo em comum: a gana pela vitória, mesmo que esta fosse por motivos também diferentes. Se Lauda queria provar ao mundo sua capacidade técnica, superando o desprezo e as críticas que recebeu ao longo da vida por não ser bonito nem descolado, com Hunt era justamente o contrário. Vencer no automobilismo era uma forma de mostrar seu valor, que não era apenas um rostinho bonito - por mais que ele gostasse, e muito, de desfrutar dos prazeres que sua aparência trazia. Lauda e Hunt eram dois talentos no volante que, até pelas inúmeras diferenças que possuíam, bateram de frente desde que se conheceram. A antipatia natural se tornou ainda maior quando um percebeu que o outro era também muito bom nas pistas, sendo uma ameaça real e sempre presente aos seus planos.

    A primeira metade de Rush é praticamente toda dedicada a apresentar  ao espectador as características muito particulares de cada um de seus heróis, assim como situá-los historicamente até que se chegue ao fatídico campeonato mundial de Fórmula 1 de 1976. É nele que Lauda e Hunt se encontram em condições de competir de igual para igual pelo título. É nele que ocorre o acidente que deixa Lauda em um carro incandescente em plena corrida, entre a vida e a morte. É nele que traz à rivalidade entre os pilotos algo que ambos sabiam, mas jamais haviam visto tão de perto: o risco da morte. E é exatamente esta possibilidade viva, palpável a cada curva tensa feita pelos carros, que agiganta a história e torna o filme maior do que uma mera disputa pelo título. Mais do que um troféu, era a vida de ambos que estava em jogo.

    Diante da grandiosidade da história narrada, coube ao diretor Ron Howard criar condições para que a tensão inevitável fluísse naturalmente ao longo do filme. É claro que o apuro técnico na recriação do circo da Fórmula 1 e no uso dos efeitos especiais sem exagero ajudaram bastante, mas este não é o tipo de filme onde o dedo do diretor fica explícito. Pelo contrário, o maior acerto de Howard foi respeitar o material que tinha em mãos ao invés de estabelecer algum tipo de marca pessoal - algo, inclusive, que é corriqueiro na carreira do diretor. Seguindo esta linha, é importante destacar a atuação de seus dois protagonistas. Por mais que Chris Hemsworth seja convincente na pele do fanfarrão e baladeiro James Hunt, quem brilha de verdade é Daniel Brühl. Seja pela caracterização, pelos trejeitos ou pelo sotaque, seu Niki Lauda é impecável - ainda mais se comparado ao verdadeiro. Trata-se de um trabalho de mimetização que lembra o feito por Meryl Streep para A Dama de Ferro, em matéria de qualidade - da atuação, não do filme. Não será surpresa alguma se Brühl ao menos beliscar uma indicação ao Oscar.

    Rush - No Limite da Emoção é um excelente filme que aborda com propriedade um ano insólito e ao mesmo tempo inesquecível na Fórmula 1, pelos fatos surpreendentes que aconteceram na temporada. Entretanto, mais até do que eles o filme abre espaço para o aspecto humano, lembrando que os pilotos não são meras máquinas em busca de velocidade. Um filme para vibrar e se emocionar, mas também para refletir sobre quais são as motivações para viver.

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