De volta para o futuro
por Renato HermsdorffDepois do pirotécnico (no mau sentido mesmo) X-Men - O Confronto Final (de 2006, dirigido por Brett Ratner), o impacto da volta de Bryan Singer (de X-Men - O Filme, em 2000 e X-Men 2, 2003) ao comando do universo mutante só não é maior, com X-Men: Dias de um Futuro Esquecido, porque, em 2011, foi lançado o ótimo X-Men: Primeira Classe, sob a batuta de Matthew Vaughn (descontados, aqui, os filmes solo do Wolverine).
Mas se Singer tem um poder mutante é o de saber transportar para o cinema da melhor maneira possível o universo desses “super-heróis” (às vezes, mais humanos do que muita gente). E ele vai além. O novo velho diretor mantém o melhor do longa-metragem anterior, como o cruzamento da história central com fatos históricos, e adiciona a luxuosa combinação de parte do elenco original das três primeiras produções com a nova geração de atores presentes em Primeira Classe. Mérito do roteiro, claro.
Com colaboração de Jane Goldman (de Primeira Classe) e do próprio Matthew Vaughn, o roteiro de Dias de Um Futuro Esquecido é assinado por Simon Kinberg, baseado em uma história do lendário Chris Claremont. No futuro, os mutantes são caçados por uma raça aditivada de Sentinelas – os robôs gigantescos criados por Bolívar Trask (Peter Dinklage, de Game of Thrones) nos anos 1970. Os poucos sobreviventes, sob o comando do professor Xavier (Patrick Stewart) - e Magneto (Ian McKellen) também -, resolvem enviar Wolverine (Hugh Jackman), que envelhece lentamente, de volta aos anos 1970, a fim de impedir um acontecimento provocado por Raven/ Mística (Jennifer Lawrence) e mudar o cenário impiedoso do futuro. Lá, o herói das garras afiadas (ainda sem adamantium e essa é uma subtrama a se prestar atenção) vai ter que convencer os jovens Charles Xavier (James McAvoy) e Erik Lehnsherr (Michael Fassbender) a ajudá-lo. Mercúrio (Evan Peters) dá uma mãozinha ao grupo, numa participação simplesmente inesquecível – para quem se lembra da cena da invasão à Casa Branca pelo Noturno (Alan Cumming) em X-Men 2...
Com planos ousados e trilha sonora correta, X-Men: Dias de um Futuro Esquecido combina o melhor do entretenimento com inteligência. Das impactantes cenas de ação (Erik levanta um estádio) à reconstituição dos anos 1970, não só no figurino, impecável, mas sobretudo nos paralelos com o comportamento da época (com um Charles irreconhecível), ou mesmo na interseção com os acontecimentos do período (como no suposto envolvimento de Erik no assassinato do presidente Kennedy).
Além de toda a beleza estética, dos ótimos efeitos especiais e os diálogos pontuados na medida certa pelo humor, ainda é possível refletir sobre a passagem do tempo não apenas a respeito dos personagens, mas também dos atores. Se a “oscarizada” Halle Berry viu seu papel crescer em X-Men 2, chegou a vez dos roteiristas destacarem a presença de outra atriz vencedora do prêmio: Jennifer Lawrence. Decisão mercadológica? Claro que sim, mas o desejo por maiores bilheterias, aqui, não caracteriza nenhum demérito, tão bem construída é a personagem e tão bem resolvidos são seus conflitos. (A intérprete da Tempestade estava grávida durante as filmagens, mas dificilmente o roteiro seria diferente). E quem não sai de moda, pelo visto, é Hugh Jackman, com seu Wolverine mais importante do que nunca para esta trama.
Aliás, o que não falta em X-Men: Dias de um Futuro Esquecido é conflito – o que pode entediar os menos acostumados com o universo do grupo. Há, sim, um excesso de plots (reviravoltas). Todos, no entanto, muito bem resolvidos.
Se Primeira Classe fez a franquia renascer das cinzas de O Confronto Final, Dias de um Futuro Esquecido devolve os X-Men de volta ao ninho onde tudo começou (não cronologicamente, claro) com o primeiro filme, em 2000. Talvez o maior poder de Bryan Singer seja ligar tão precisamente essas duas pontas.