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    Não Olhe para Trás
    Críticas AdoroCinema
    2,5
    Regular
    Não Olhe para Trás

    A redenção de um rock star

    por Bruno Carmelo

    Danny Collins (Al Pacino) é um músico idoso, famoso pelas canções populares e grudentas. Ela vive dos mesmos hits há décadas, e tem como fãs principalmente o público da terceira idade. Ou seja, é uma espécie de Roberto Carlos americano. Neste caso, o antigo rock star ainda leva uma vida hedonista, gastando mais dinheiro do que tem, trocando de esposa com frequência e experimentando diversas drogas. Mas quando descobre uma carta antiga escrita por John Lennon, encorajando-o a não se deixar influenciar pela indústria, ele decide ser um homem melhor, reatando os laços com a família e abandonando a cocaína.

    A premissa desta comédia dramática deixa prever o pior: mais uma história sobre um homem “ruim” que descobre o bom caminho, em uma trajetória moralista de purificação. De certo modo, Não Olhe Para Trás contém todos esses ingredientes, mas consegue evitar a mensagem sublinhada demais, o aspecto excessivamente lacrimoso. O diretor e roteirista Dan Fogelman aposta em todos os clichês possíveis deste subgênero, mas decide tratá-los de maneira relativamente leve, mais cômica do que dramática.

    No papel principal, Al Pacino está muito confortável como um tipo egocêntrico, acostumado a ter tudo que deseja através do seu carisma e de seus contatos. O ator possui recursos de sobra para transformar o personagem potencialmente antipático em uma vítima das consequências, uma espécie de homem falho de bom coração. As melhores cenas do filme, sem dúvida, encontram-se nos diálogos com a gerente de hotel Mary Sinclair. Estes são os momentos mais ágeis, com falas mais afiadas, conduzidas com maestria por Annette Bening. As cenas em família, no entanto, são muito mais fracas, já que Bobby Cannavale e Jennifer Garner se limitam às caras tristonhas de piedade e surpresa.

    É uma pena que o roteiro não deixe a história fluir de maneira orgânica, a partir de um único conflito inicial (a descoberta da carta levando à redenção). A trama acumula uma porção de dificuldades esquemáticas, uma após a outra: uma doença terminal aqui, uma gravidez de risco acolá, uma história de quase morte no passado, uma traição, um retrato patético de hiperatividade infantil. Cada personagem tem pelo menos um grande problema, que só pode ser redimido com a união de todos em uma grande família. Danny Collins consegue essa aproximação graças ao dinheiro e ao charme – aliás, quem acredita que dinheiro não traz felicidade vai mudar de ideia ao ver os presentes generosos do protagonista à família.

    Não Olhe Para Trás poderia ser um filme modesto, uma trama intimista de reinvenção de si. Fogelman certamente tem talento para desenvolver momentos singelos – vide as cenas dentro do quarto de hotel. Mas na hora de buscar o humor, a narrativa apela para a mecânica do exagero, como no momento em que o músico simplesmente doa o seu carro caríssimo ao funcionário do hotel. Fazer o bem não é mais questão de valores morais, e sim de valores financeiros: Danny Collins é ainda melhor porque doou um produto tão caro a um homem tão pobre.

    Seguindo esta lógica, só os realmente ricos podem ter uma redenção tão espetacular, porque apenas eles possuem o suficiente para se desfazer. O filme gosta dos contrastes extremos, do homem muito rico ajudando pessoas muito pobres, do extremamente arrogante tornando-se humilde. Embora não incomode pelo sentimentalismo, Não Olhe Para Trás é prejudicado por uma espécie de modéstia do espetáculo, de bom-mocismo capitalista, que enxerga grandes doações em dinheiro como modelo de comportamento exemplar.

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