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    Feito Gente Grande
    Críticas AdoroCinema
    3,0
    Legal
    Feito Gente Grande

    O olhar de crianças e adultos

    por Bruno Carmelo

    No papel, o projeto de Feito Gente Grande é muito atraente: abordar temas como a morte, o sexo e o divórcio nas famílias de classe média-baixa pelo ponto de vista de duas crianças. A ideia é contrastar o tom ingênuo com a seriedade da situação, gerando um humor sarcástico, a exemplo da cena em que Rachel (Juliette Gombert) flagra a professora “fazendo amor pela bunda”. Como em uma crônica, a comicidade nasce da arte de observar fatos corriqueiros com um olhar deslocado – no caso, o olhar infantil.

    O elenco traz alguns dos atores franceses que transitam com maior facilidade entre a comédia e o drama: o versátil Denis Podalydès, confrontado com o palavreado delicado de Isabelle Carré (em papel atípico de mãe solteira neo-hippie) e com a agressividade verbal de Agnès Jaoui (tentando conter os gestos expansivos, para criar uma postura mais melancólica). Somando o talento do trio com a atuação espontânea das duas atrizes mirins, Feito Gente Grande tem grandes armas em termo de versatilidade e de tom.

    O problema surge, no entanto, na própria direção. A cineasta Carine Tardieu, também responsável pelo roteiro, hesita entre tratar a produção como comédia ou drama. Ora a câmera faz cortes secos, mais propícios à comédia, ora a imagem permanece imóvel para retratar longamente os seus personagens. É próprio das comédias dramáticas alternar entre os dois registros, mas a montagem parece querer fazer os dois ao mesmo tempo, de modo que as cenas cômicas nunca são inteiramente engraçadas, e as dramáticas nunca se tornam tão emocionantes quanto poderiam ser.

    Enquanto isso, a cineasta usa alguns recursos comuns à comédia infantil e pastelão (a tela dividida em dois enquanto a mãe e a filha esperam para atravessar a rua) ao lado de outros típicos dos dramas mais profundos (a câmera de longe, observando a mãe confrontando a filha após uma fuga). Na teoria, esta divisão faz sentido – as imagens duras e deprimentes são reservadas aos adultos, enquanto os pequenos têm um olhar divertido do mundo – mas na prática, nunca se sabe exatamente de quem é o olhar do filme, ou a quem a produção se destina.

    Nos momentos em que surge a trilha sonora cheia de pianinhos e efeitos engraçados de percussão, o espectador pode se sentir dentro de um especial infantil televisivo. Mas depois, quando o roteiro explora o desgaste no relacionamento dos pais de Rachel, existe algo propício ao público adulto. Feito Gente Grande pode parecer simultaneamente infantil demais para os adultos, e adulto demais para as crianças. O trabalho de marketing do filme reflete esta dúvida: na França, o poster é multicolorido, engraçado e bastante infantil, já no Brasil ele ganhou um teor sombrio, puramente dramático.

    Mesmo assim, Feito Gente Grande merece destaque pela abordagem franca e não idealizada de seus temas, e pelo ritmo agradável da produção. O filme poderia sair da sala de edição com menos música, cortes mais ágeis e uma estética mais uniforme. Poderia ser uma obra incisiva e ácida, mas a diretora preferiu o registro carinhoso ao olhar crítico.

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