Mal amados
por Roberto CunhaChega a ser curioso escrever, em 2013, sobre um filme que passou em branco nas bilheterias americanas e no Festival de Cannes, no ano anterior, mesmo depois de aplaudido durante minutos. Ainda mais quando se descobre que a trama de Obsessão é boa, com plenas condições de manter o espectador preso na cadeira, pensando em como será o seu fim.
Hillary Van Wetter (John Cusack) foi condenado a morte pelo assassinato de um xerife racista, em uma pequena cidade da Flórida, no final dos anos 1960. Ward (Matthew McConaughey) trabalha para um grande jornal da metrópole e decidiu fazer uma matéria, tentando provar que houve injustiça. Para isso, ele vai contar com a ajuda de seu irmão mais novo, Jack (Zac Efron), que ainda mora na região do crime. A investigação, porém, começa a ganhar contornos perigosos quando o jovem, que nunca aceitou o abandono da mãe, se apaixona pela fogosa Charlotte (Nicole Kidman), mulher mais velha, que tem o estranho hábito de trocar cartas com homens presos. E a coisa só piora na medida que algumas descobertas sobre o caso revelam-se nada verdadeiras.
Usando e abusando de belas cores saturadas e uma trilha sonora altamente conectada com o tempo (Four Tops, Gladys Knight, Patti LaBelle, Linda Clifford), o cineasta Lee Daniels apresenta um suspense temperado com altas doses de sensualidade, violência e tensão racial, coerente com sua curta carreira no cinema. O roteiro bem amarrado foi escrito por ele e Pete Dexter, autor do livro que deu nome (original) ao filme: "The paperboy", de 1995. E a única coisa que pode incomodar os mais exigentes é o uso da locução do personagem Anita (Macy Gray), que faz a empregada da família e conta a história. Mas não compromete em nada.
Entre os destaques, a bonita relação de mãe preta entre Jack e Anita (um pouco jovem demais, é verdade), uma gostosa cena de dança entre ele e Charlotte, e duas sequências: uma muito sensual e insana, envolvendo Nicole Kidman (ótima) e quatros homens, e outra bastante violenta (para estômagos fortes) envolvendo McConaughey e Efron. Ah! Não dá para esquecer uma inusitada "mijada curativa" ao som de "Lucky in Love", cantada por Eddie Bo. Assim, com um elenco afiado, bons diálogos, destilando temas como o preconceito racial, sexual e o abandono, Obsessão é quente como a suarenta Flórida e transpira amor, mesmo que ele não seja tão tradicional como desejaria boa parte das pessoas.