Rocky em xeque
por Lucas SalgadoRocky Balboa é um dos mais famosos personagens da história do cinema. Imortalizado por Sylvester Stallone em sete filmes, o lutador é um sujeito simples que supera todas as dificuldades da vida para se tornar um astro do boxe, quase sempre na posição de azarão contra importantes lutadores.
O personagem foi inspirado livremente na vida de Chuck Wepner, que é justamente o protagonista de Punhos de Sangue. Conhecido como o sujeito que resistiu por 15 rounds um confronto contra Muhammad Ali, Wepner foi um sujeito simples que viu a possibilidade de sucesso a seu alcance, mas que ficou como uma nota de rodapé na história de um lutador muito mais famoso do que ele.
Hoje em dia, é difícil imaginar Rocky como um sujeito de uma luta só e quase um fracassado, afinal o personagem superou sua fonte de inspiração e acabou ganhando inúmeras produções. Mas é bom lembrar que no primeiro longa, Rocky, um Lutador, o boxeador luta bravamente, mas acaba derrotado pelo campeão mundial.
A fantasia do cinema permitiu a Chuck uma retomada que ele não deve na vida real. E isso é muito interessante numa reflexão geral sobre obra e inspiração. No entanto, como objeto audiovisual fechado, Punhos de Sangue está bem longe de ser uma obra completamente eficiente. Tem bons momentos, mas também apresenta falhas claras.
O filme mostra a luta contra Ali, mas ao contrário de Rocky, aqui o confronto não é o foco principal. Na sequência, vemos ele se entregar às drogas e ao deslumbramento de um sucesso que só ele enxerga, que é intensificado com a produção de Rocky e a conquista do Oscar pelo filme. Chuck vê tudo isso como uma conquista pessoal.
Ainda que a trama tenha seus bons momentos, o filme não apresenta a intensidade que precisava para contar sua história. Um ótimo ator de teatro, Liev Schreiber está bem, mas um pouco fora do tom. Ele acaba entregando uma atuação mais teatral, com excessos visíveis, tanto nas cenas em que está feliz, quanto nos momentos em que está no fundo do poço. A abordagem - da trama e de seu protagonista - é má desenvolvida e não consegue transmitir bem toda a intensidade da história.
Naomi Watts, Ron Perlman e Elisabeth Moss completam o elenco principal. Estão todos bem, mas não conseguem a sensação de que tudo já havia sido mostrado antes nas telas. E não apenas na saga Rocky. A depressão, o alcoolismo e o fundo do poço, por exemplo, também fazem parte de O Lutador, uma obra bem mais completa.