Saia de casa sem ele
por Roberto CunhaDepois de causar furor nos "isteites" chegou a hora do público brasileiro conferir o que Magic Mike tem para mostrar e, meninas e meninos, até que tem um borógódó. Para quem já se empolgou, evidentemente, não vá com muita sede ao pote, né? Mas ele levou classificação R por lá, o que já indica conteúdo restrito e menores de 17 anos somente acompanhados de adultos. Essa classificação, para se ter uma ideia, é o terror dos estúdios, mas um faturamento doméstico que já passou dos US$ 110 milhões (para um orçamento de US$ 7 mi) e uma sequência já no forno dão indícios de que o clímax foi alcançado. Se não tinha ouvido falar nada, é molinho de explicar. O drama tem inspiração em parte da vida de um dos galãs do momento, o ator Channing Tatum, que antes de decolar em Hollywood bateu ponto em boates stripper.
A história conta sobre Mike (Tatum), um peão de obra durante o dia, stripper na noite e designer de móveis nas horas que sobram para sonhar. Um dia, ele conhece o jovem Adam (Alex Pettyfer), resolve ajudá-lo, e no outro os dois já eram melhores amigos. Rapidamente, ele se insere no grupo, começa a fazer show (o primeiro foi ao som de "Like a Virgin", de Madonna), passa a consumir drogas e até a mulher dos novos amigos. Tudo fácil e rápido. Previsivelmente, o carinha tem uma irmã mais velha (Cody Horn), que vai interessar Mike para ele ficar ainda mais dividido entre mostrar a espada ou carregar a cruz de ser um trabalhador, digamos, mais normal. Nada contra balançar o esqueleto e outras coisitas mais enquanto tira a roupa, mas não dá para posar de bom moço e coitado, levando uma vida dessas.
Escrito pelo novato Redi Carolin, o roteiro é frágil, tem dificuldade para se tornar convincente e esse é o maior problema. Não basta inserir no diálogo frase bonitinhas e surradas ("O que eu faço não é quem sou" ou "Você é o marido que elas nunca tiveram") e achar que o drama do personagem vai ser "comprado". Tem que envolver o espectador com um bom tempero e dar tempo pra isso acontecer. Com tudo se desenrolando como numa lanchonete fast-food ao fazer um sanduíche padrão, o que se tem no fim das contas é um longa assim, sem sabor de novidade. Resta o conteúdo apimentado com barrigas tanquinhos e bundas torneadas, mas aí é restringir o "prazer" para um grupo e o gozo não é múltiplo, o que é uma pena em plena era do "compartilhar", não é verdade?
Pilotado por Steven Soderbergh, que parece mesmo ter perdido a mão de uns tempos para cá, fica claro que a relação de Mike com o dono da boate (Matthew McConaughey ótimo como canastrão mor) poderia ser melhor trabalhada e o seu interesse amoroso mais estimulante do que uns dois/três papinhos furados, acompanhados do olhar blasé da moça. Ainda assim, a produção tem bom humor e um ritmo oscilante, além daqueles que tocam durante as coreografias viajantes. Assim, dizer que Magic Mike é ruim é querer dar uma de broxante na marra. Afinal, o filme funciona dentro da proposta de apresentar esse conflito tão fininho quanto as tangas usadas pelos rapazes. A escolha é sua. E, por favor, saia de casa sem "ele" para evitar ciumeiras rolando na poltrona. O aviso está dado.