Histórias mínimas
por Bruno CarmeloUm homem solitário e uma mulher solitária se encontram. Por sugestão de um colega, eles fazem um trajeto de 1500km juntos, dentro do mesmo caminhão. Os dois vão claramente se apaixonar, certo? Vão descobrir uma grande afinidade, ou travar uma nova amizade? Vão chegar aos seus destinos se tornando pessoas melhores do que são? Nada isso. Longe do idealismo ou de qualquer previsibilidade, Las Acacias prefere observar pacientemente seus dois personagens, à espera das primeiras interações entre os dois.
O único elo simbólico entre eles é a questão da filiação: Jacinta (Hebe Duarte) traz consigo uma filha de colo, enquanto Rubén (Germán De Silva) é marcado pela relação distante com um filho, que não vê há anos. O caminhoneiro não sabia da existência do bebê, senão provavelmente não teria concedido a carona. O fato é que, por lealdade e conveniência – eles dividem os custos da viagem – os dois são obrigados a sentarem lado a lado, durante muitas horas. O roteiro poderia explicar a origem dos conflitos de Rubén com seu filho, ou os motivos da separação entre Jacinta e o pai de sua filha, mas ele opta por não revelar ao espectador nada que ele não possa ver por si só, através das imagens.
Esta é a maior ousadia de Las Acacias: acreditar na potência das imagens, quando o diálogo e as reviravoltas narrativas seriam as soluções mais fáceis. Com dois atores sentados dentro de um caminhão durante 90% da trama, o diretor estreante Pablo Giorgelli poderia colocar diálogos simbólicos, sugestivos, mas ele consegue construir seus personagens e suas histórias principalmente pela imagem, conferindo uma surpreendente agilidade nos enquadramentos e na edição. O filme tem prazer manifesto em gravar as paisagens, a mudança da luz, o som dos carros. Como o belo Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, esta produção vê na estrada aberta uma infinidade de possibilidades estéticas e dramáticas.
No entanto, este não é um drama sem conflitos, do tipo puramente contemplativo. O roteiro cria uma gradação mínima e certeira, quase microscópica, na relação entre os personagens. No início eles mal se olham, depois se observam, mas os olhares não se cruzam. Aos poucos ele dá uma pequena ajuda com o bebê, ou observa a companheira de viagem com compaixão, quando a flagra chorando. O confronto entre os estilos opostos de atuação de Hebe Duarte e German de Silva contribui à riqueza das relações: ela, que nunca tinha atuado na vida, tem os movimentos duros, parece hesitar nas palavras e nos gestos, algo que cabe perfeitamente à personagem de Jacinta. Ele, grande ator de teatro, trabalha como um profissional os silêncios, os olhares, a entonação da voz.
Ao mesmo tempo, é surpreendente a habilidade do diretor em fugir das armadilhas do gênero. Ele não compõe planos incrivelmente estetizados, tampouco recorre à aridez total na maneira de filmar. O cineasta não fornece explicações metafóricas, psicológicas, mas também não priva os personagens dos conflitos necessários para que tenham complexidade e despertem interesse. Sem artimanhas fáceis, ele constrói uma complexa ode à banalidade e às pessoas comuns. Las Acacias é uma obra madura, encantadora, pela simplicidade e respeito com que filma o ser humano.