Uma comédia italiana
por Lucas SalgadoÉ muito fácil cair no lugar-comum quando falamos sobre Woody Allen. E isso pode acontecer tanto a partir de adjetivos como "neurótico" ou "brilhante", como a partir de expressões do tipo: "um filme fraco de Woody é melhor do que a média dos outros cineastas." Por isso, me dói dizer que Para Roma Com Amor é um longa menor do diretor, mas ainda assim é superior a boa parte das comédias que chegaram aos cinemas nos últimos tempos.
Depois de passar por Londres, Barcelona e Paris, Allen chega a capital da Itália tentando repetir o sucesso de Ponto Final - Match Point, Vicky Cristina Barcelona e Meia Noite em Paris. Diante dessa intenção, já é possível afirmar que o diretor fracassou. O longa possui poucos momentos de genialidade e deve ficar bem longe das premiações de cinema.
Quer dizer que Para Roma Com Amor é um filme ruim? Não, longe disso. É engraçado e inteligente, mas sem dúvida fica aquém de outros trabalhos do cineasta. Talvez a coisa mais interessante com relação ao longa seja o fato dele ser bastante italiano. Assim como Match Point abraçava um clima que fazia justiça a fama de Londres e sua neblina ou como Vicky Cristina Barcelona abusava das cores fortes e dos diálogos quentes que são a cara da Espanha, aqui Woody busca elementos da sociedade e do cinema local para sua narrativa.
O filme é, em todos os sentidos, uma comédia italiana, abusando inclusive de momentos bem paspalhões - lembrando o início de sua carreira com obras como O Dorminhoco e Bananas. Desde o primeiro segundo, Allen mostra que sua intenção era mesmo "ser italiano", deixando de lado a tradicional abertura com jazz para soltar em alto e bom som a clássica canção "Nel blu dipinto di blu (Volare)". Aí, Para Roma Com Amor já ganha o espectador, que entra totalmente no clima do país e sua capital.
Contando várias histórias ao mesmo tempo, a partir da inusitada perspectiva de um guarda de trânsito, a produção conta com uma montagem bem interessante. Ao contrário do que acontece no cinema de Alejandro González Inárritu, aqui as tramas não se relacionam uma com a outra, ocorrendo, inclusive, em períodos diferentes. Assim, é possível ver uma história que dura semanas ao mesmo tempo que em acompanhamos uma que durou um dia. E tudo é feito de forma natural.
Longe das telas desde Scoop - O Grande Furo, Woody Allen volta a atuar em um de seus filmes. Ele interpreta um produtor cultural aposentado que viaja para Roma com a esposa (Judy Davis) para conhecer o noivo de sua filha (Alison Pill, que já havia trabalhado com o diretor em Meia Noite em Paris). Em outra história, Alec Baldwin é um arquiteto consagrado que encontra com o jovem Jack (Jesse Eisenberg) e acompanha sua relação com a namorada (Greta Gerwig) e a melhor amiga dela (Ellen Page).
Em suas empreitadas por Barcelona e Paris, Allen sempre abordou a visão do americano diante das cidades. Isso também está presente na produção, principalmente nos dois núcleos citados. Mas pela primeira vez, ele também realizou tramas totalmente locais. Roberto Benigni interpreta Leopoldo, um sujeito normal que da noite pro dia descobre que se tornou uma celebridade, enquanto que os jovens Alessandra Mastronardi e Alessandro Tiberi vivem um casal de italianos que chegam à capital para uma nova fase na vida.
Todas as histórias são agradáveis, mas em alguns casos parecem que ganham espaço demais na tela. A envolvendo Allen acaba se tornando repetitiva ao final, embora nos proporcione momentos hilários. A trama do casal italiano é a menos interessante, mas vale a pena por causa da presença de Penélope Cruz, que interpreta uma prostituta bem solicitada, que é quase uma homenagem do diretor à Cabíria de Federico Fellini.
As melhores tramas são: a de Benigni, que brinca de forma bem humorada com o culto à personalidade no mundo de hoje, destacando os sempre chatos paparazzis; e a de Baldwin, que tem como ponto principal a participação de Jesse Eisenberg. O ator de A Rede Social foi o escolhido para interpretar uma espécie de alterego de Woody Allen, o que faz muitíssimo bem.
To Rome With Love (no original) está anos-luz de ser uma obra-prima. Mas isso não significa que você não terá 102 minutos de diversão.