Vive la resistance!
por Renato HermsdorffO pinguim é para o que nasce? Aos olhos dos homens, para que nascem os pinguins? Para trazer fofura ao mundo, ora. Esse costuma ser o paradigma que norteia nossa relação com esses animais, seja na vida real (como estrelas dos zoológicos), seja no cinema, que voluntaria ou involuntariamente, em formato documental (A Marcha dos Pingüins) ou ficcional (Happy Feet - O Pinguim), geralmente cai na exaltação da fofura desses bichinhos. Pois é para quebrar esse paradigma (em forma de piada) que chegam Capitão, Kowalski, Rico e Recruta, Os Pinguins de Madagascar.
No spin-off de Madagascar, as paranoicas aves (aves? Sim, tem piada sobre isso) compõem, agora, a elite do pinguins espiões. O quarteto é capturado em uma missão que tinha como objetivo presentear (piada) o integrante mais novo da tropa, Recruta, em seu aniversário. Eles caem nas garras do temido Dr. Otavius Brine (quem? Piada), que se sentiu prejudicado pelos heróis em um passado remoto. Agora, Capitão, Kowalski, Rico e Recruta vão ter que impedir o maléfico plano do vilão de se vingar dos pinguins do mundo todo e, para isso, terão que juntar forças com uma especializada agência de espiões, a Vento do Norte, liderada pelo Agente Secreto (piada).
Recheado de ação – e com piadas inteligentes! –, o hilário longa tem apelo suficiente para agradar às crianças e aos pais. Um dos grandes méritos do filme é a quebra da narrativa (aventuresca). “Só existe uma maneira de aprender a pilotar essa nave...”, diz um dos pinguins em um momento de apuros: corta para os quatro, no interior do avião, lendo o manual de instruções. (Esse não é necessariamente um spoiler, é só um dos muitos exemplos do quanto o quarteto pode ser surpreendente – e nonsense).
Quem não acompanhou os filmes anteriores da franquia, não terá dificuldades para embarcar na trama dos pinguins. Há algumas referências aos personagens das produções, irônicas, que servirão como deleite para os fãs da saga, mas com potencial para divertir também quem acaba de subir no barco.
Apesar de divertida, a trama fica um tanto quanto rocambolesca com a entrada da Vento do Norte. O artifício serve para reforçar a simplicidade como uma vantagem do atrapalhado time de espiões, frente a uma organização estruturada nos moldes 007 – além de render boas... piadas, como na cena do trailer em que Capitão irrita o Agente Secreto comendo salgadinhos. Mas a inserção pouco contribui para o andamento da história. No original, Benedict Cumberbatch dá voz ao almofadinha líder do grupo, pesando a mão no sotaque, o que se perde na versão dublada (exibida para a imprensa), que inclusive faz referência à forma estranha de falar do personagem, sem que fosse exigido um mesmo trabalho do dublador brasileiro. Não chega a ser grave, no entanto.
No fim, Capitão, Kowalski, Rico e Recruta ainda ensinam que o questionamento é bem-vindo – e que a fofura está nos olhos de quem vê. Como diriam os franceses, vive la resistance!